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Lideranças médias estão mais esgotadas e têm enfrentando maior risco de burnout


01/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os riscos de burnout entre lideranças médias são os mais altos entre os funcionários de escritórios. É o que revelou uma pesquisa do consórcio Future Forum, da empresa americana de software Slack Technologies.



Depois de entrevistar mais de 10 mil profissionais em países como Estados Unidos, França, Japão e Austrália, entre outros, o estudo chegou à conclusão de que 43% dos gestores intermediários se consideram esgotados e com alto risco de burnout.



O índice é maior do que aquele verificado entre executivos (32%) e na liderança sênior (37%). Na média dos funcionários de escritório, a apreensão diante de um possível burnout é de 40%, um aumento de 8% e significativo em relação à última pesquisa, realizada em maio.



Os principais motivos elencados pelos profissionais para o esgotamento dizem respeito à dificuldade de equilibrar as vidas pessoal e profissional e de lidar com altos níveis de estresse e ansiedade. E a causa desse aumento parece estar relacionada, ao menos em parte, ao retorno forçado ao escritório.



Afinal, trabalhadores com flexibilidade de horário se mostraram 26% menos propensos a indicar esgotamento e cinco vezes mais capazes de lidar com o estresse relacionado ao trabalho. Eles ainda relataram uma sensação de produtividade 30% maior do que os profissionais que foram obrigados a voltar a frequentar o escritório e que têm uma jornada com horários mais rígidos.



São conhecidos os muitos efeitos nocivos do esgotamento e do medo de burnout para a relação dos profissionais com o seu trabalho. O estudo da Future Forum revelou que as pessoas que se sentem com burnout relatam níveis de estresse e ansiedade 22 vezes mais altos do que funcionários que não estão esgotados.



A produtividade desses profissionais também é muito prejudicada, com uma piora estimada em 32% e com redução do foco na ordem de 60%. O que acaba implicando em uma relação mais frágil com o propósito do trabalho. Segundo a pesquisa, trabalhadores esgotados se sentem duas vezes mais desconectados dos valores da empresa, de seus gestores, do time do qual fazem parte e da liderança.



Para aumentar o bem-estar e, consequentemente, a produtividade desses profissionais e o seu desejo de permanecer na companhia, é fundamental que as empresas entendam os motivos do esgotamento e adotem estratégias para reduzi-lo. Colaboradores ansiosos, estressados e com risco de burnout são cada vez mais numerosos e esse crescimento precisa ser interrompido o quanto antes para o bem dos negócios e das pessoas.

Janeiro Branco: uma boa oportunidade para pensar e promover a saúde mental


18/01/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Janeiro costuma ser um momento para pensar na vida, refletir sobre o que estamos fazendo, sobre o que queremos do ano que começa e sobre aquilo que precisamos fazer com esse propósito. Convém, portanto, que o mês associado à saúde mental seja justamente o primeiro do ano, por meio da campanha Janeiro Branco.



Neste ano, o tema da campanha é: a vida pede equilíbrio. Algo nada trivial em um mundo permeado de mudanças e novidades. Com o avanço das tecnologias, as comunicações e as relações pessoais e profissionais evoluem a um ritmo cada vez mais acelerado. Ao preço, muitas vezes, da tão necessária estabilidade psicológica.



Com transformações constantes, é difícil manter comportamentos, rotinas, sentimentos e expectativas estáveis. É como se a todo momento tivéssemos de nos adaptar a novidades e readequar nossos modos de vida.



O resultado disso consiste numa dificuldade crescente de alcançar diversos tipos de equilíbrio emocional, dentre eles a desejável harmonia entre as vidas profissional e pessoal. Pois embora a Covid esteja sendo assimilada pela sociedade, os efeitos da pandemia são duradouros e seguem influenciando as formas de trabalho.



O Relatório Mundial de Saúde Mental, da Organização Mundial da Saúde, de junho de 2022, revelou que um bilhão de pessoas sofrem algum transtorno mental. Estimativas da ONU sugerem que 12 bilhões de dia de trabalho são perdidos todos os anos devido à depressão e à ansiedade, com um custo econômico de quase um trilhão de dólares.



É sabido, afinal, que além de deteriorar a saúde física e mental das pessoas, o estresse ligado ao trabalho prejudica consideravelmente a produtividade dos profissionais.



Mas o que se pode fazer?



O primeiro passo é compreender que o bem-estar emocional é tão importante quanto a saúde física. Nesse sentido, avanços importantes têm ocorrido na contramão de uma cultura que ainda cerca de preconceitos e estigmas o tema da saúde mental.



Em seguida, é importante tomar alguns cuidados e algumas atitudes relacionadas ao comportamento cotidiano. Especialistas são unânimes ao recomendar a reserva de um tempo de descanso e lazer, momentos com as pessoas de quem se gosta, a prática de atividades físicas e uma dieta saudável.



Em relação ao trabalho, o desafio é preservar ao máximo um bom equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e a vida pessoal. Saber separar as coisas é imprescindível e aqui estamos falando das horas passadas no escritório ou em home office, mas também do uso indiscriminado de ferramentas de comunicação virtual ligadas às tarefas profissionais.



As empresas, por sua vez, também têm sua responsabilidade. Sabendo dos custos em produtividade de trabalhadores mentalmente adoecidos, cabe a elas investir em iniciativas que promovam o bem-estar emocional e dosar a carga de estresse e ansiedade que recai sobre os ombros dos seus colaboradores.

Brasil é o segundo país em número de jovens que nem trabalham nem estudam


14/12/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



36% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam e não conseguiram se inserir no mercado de trabalho. O índice faz do Brasil o segundo país com a maior proporção de jovens nessas condições, uma geração marcada pela condição chamada “nem-nem”.



Os dados fazem parte de relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne países desenvolvidos e cuja média de jovens que sequer estudam ou trabalham é de 16,6%. O único país com uma taxa acima da brasileira é a África do Sul, com 46%. Além dos países-membros da organização, o estudo levou em conta dados de Brasil, Argentina, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e do país africano.



Um indicador igualmente grave revelado pelo relatório é de que o Brasil também fica na segunda posição no que diz respeito ao tempo que os jovens ficam nessa condição. 5% dos jovens brasileiros sem estudar ou trabalhar estão nesse limbo há mais de um ano. Um dado preocupante à medida que quanto maior o período que o jovem fica inativo maiores as dificuldades de ele integrar o mercado de trabalho.



Com efeito, o documento da OCDE alerta para a necessidade de os países com altos indicadores de jovens “nem-nem” adotarem políticas para combater esse quadro. Além do futuro dessas pessoas, o que está em jogo é o desenvolvimento do país como um todo. Se as próximas gerações de trabalhadores não se qualificam e nem acumulam experiência, as perspectivas de inovação, aumento de produtividade e crescimento econômico são prejudicadas.



Por outro lado, esses dados são fruto de uma realidade marcada pela desigualdade social e a falta de oportunidades. Se jovens das classes altas não encontram problema para iniciar e concluir o ensino superior, o mesmo não pode ser dito sobre aqueles com piores condições financeiras. A diminuição do número de formados nas universidades públicas no último período é expressão disso.



Nesse sentido, o relatório da OCDE sugere a adoção e o fortalecimento de políticas de assistência para que a maioria dos alunos consiga começar e terminar a universidade. O contrário do que ocorreu no Brasil nos últimos anos, em que o orçamento dos programas de auxílio para estudantes diminuiu.



Concomitantemente, é fundamental aumentar a oferta de vagas no ensino superior. Diversas pesquisas já mostraram como a obtenção de um diploma universitário está diretamente ligada a mais oportunidades de emprego e melhores salários. Especialmente em momentos de turbulência econômica, como a provocada pela Covid-19. Quem concluiu o ensino superior teve menos chance de perder o emprego, e quando isso aconteceu, teve mais facilidade para se reinserir no mercado.

Tarefas administrativas consomem mais da metade do dia de trabalho


07/12/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os efeitos da pandemia sobre o mundo do trabalho e a rotina dos profissionais foram enormes. Mas ao lado de tantas mudanças, uma coisa permaneceu igual. A quantidade de tempo que gastamos fazendo algo que não fomos contratados para fazer.



Uma pesquisa com mais de 10 mil profissionais ao redor do mundo, realizada pela fabricante de software empresarial Asana, mostrou que os chamados trabalhadores do conhecimento (analistas de dados, designers gráficos, entre outros) usam mais da metade do seu dia para a “coordenação do trabalho”. Ou seja, com tarefas como acompanhamento, reuniões e busca de informações.



O estudo revelou também que atividades de planejamento ou de definição estratégica representaram, em 2021, apenas 9% do dia a dia desses profissionais. Uma queda em relação aos 13% registrados em 2019 e que pode ser explicada pela dificuldade de se fazer planejamentos de longo prazo com a instabilidade provocada pela pandemia.



Há algumas diferenças no uso do tempo de trabalho entre determinados países. Os alemães, por exemplo, perdem menos tempo com tarefas administrativas e de coordenação do que a média global. Por outro lado, dedicam menos horas para planejamentos estratégicos.



No entanto, os resultados são muito próximos ao redor do mundo. Apenas um terço do dia de trabalho costuma ser usado para as atividades centrais de cada funcionário. Reflexo de uma coordenação do trabalho tão complexa que o gerenciamento dessas iniciativas acaba ocupando mais tempo do que deveria.



Diante disso, as empresas têm se esforçado para reduzir o tempo gasto com coordenação e tarefas administrativas. Os resultados, porém, não são tão animadores e o número de reuniões explodiu com a chegada da pandemia. Um problema tão importante quanto a dificuldade de solucioná-lo.

Brasileiros preferem trabalhar mais tempo em casa do que as empresas desejam


24/11/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A distância entre os dias que os trabalhadores brasileiros gostariam de ficar em home-office e o que as empresas do país estão dispostas a permitir que eles o façam é a maior do mundo.



Segundo o estudo Working From Home Around the World (Trabalhando em casa ao redor do mundo), se pudessem escolher, os brasileiros trabalhariam em casa 2,3 dias, em média, por semana. Já as empresas nacionais desejam que o home-office se restrinja, também em média, a 0,8 dia por semana. Contra médias globais de 1,7 e 0,7, respectivamente.



Ainda em meio à retomada das dinâmicas normais de trabalho após o auge da pandemia, os trabalhadores brasileiros têm ficado em casa 1,7 dia, em média, por semana. Um índice um pouco maior do que a média global, de 1,5 dias.



Ou seja, as empresas ainda estão concedendo mais home-office do que intencionam fazer no futuro. O que se explica não mais por exigências ligadas à crise sanitária, mas por escolhas de negócio.



Experiências de diversas empresas e executivos, corroboradas por pesquisas, têm indicado ganhos de produtividade e financeiros para as companhias com o home-office. Quando ficam em casa por opção, profissionais tendem a ficar mais satisfeitos, trabalhar melhor e ter menos vontade de deixar a empresa.



Tudo isso favorece a permanência e até a expansão do home-office. No entanto, algumas áreas e especialmente algumas regiões do mundo são menos afeitas a ele.



Um limite para o trabalho em casa na América do Sul, por exemplo, diz respeito às condições de moradia da população. Em casas onde é difícil acomodar espaços de descanso e de trabalho para um casal, o home-office é comprometido.



Para não falar do avanço ainda lento de mecanismos para a gestão do trabalho feito de casa, especialmente em empresas de menor porte. No Brasil, portanto, não surpreende o fato de a maioria dos casos de home-office ou trabalho híbrido, com dias em casa e dias na empresa, estar concentrada em grandes multinacionais, com ferramentas mais desenvolvidas para avaliação e acompanhamento das tarefas dos funcionários.



Outro obstáculo para o trabalho remoto é a cultura. Enquanto o profissional enxerga ganhos de produtividade ficando em casa, sobretudo com o tempo economizado com deslocamento e o maior bem-estar, muitas empresas ainda desconfiam de que esses ganhos podem se estender no longo prazo.



A mesma pesquisa mostrou, inclusive, que diversos trabalhadores estariam dispostos a abrir mão de parte do salário pelo home-office. Em média, eles renunciaram a 5% (7,4% no Brasil) da remuneração para ficar em casa dois ou três dias por semana.



É claro que o home-office ainda é uma realidade para uma parcela pequena dos profissionais brasileiros. Mas com o aumento de vagas cujas responsabilidades podem ser realizadas à distância, vai ser incontornável que empregados e empregadores encontrem um meio termo para suas expectativas. Tanto para garantir o bom desempenho das tarefas quanto a satisfação de profissionais acostumados a novas rotinas de trabalho.

Maioria dos jovens brasileiros quer um emprego “verde” nos próximos anos


26/10/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A preocupação com o aquecimento global e a preservação do meio ambiente é cada vez maior. O que não se sabia é que a imensa maioria dos jovens brasileiros gostaria de trabalhar em cargos ligados à economia verde no futuro próximo.



Uma pesquisa da consultoria Accenture feita com quase 30 mil jovens ao redor do mundo revelou que 88% das pessoas de 15 a 39 anos no Brasil desejam ter um emprego comprometido com questões ambientais.



O índice entre os brasileiros é um dos maiores do mundo e supera, com larga vantagem, a proporção europeia (57% em média) e dos Estados Unidos, onde 52% dos jovens ambicionam um emprego verde.



Segundo a pesquisa, entre os jovens que gostariam de trabalhar na área no Brasil, 60% são otimistas e acreditam ser possível encontrar uma vaga em uma empresa inserida na economia verde nos próximos 10 anos. Uma expectativa que parece real considerando as transformações em curso no mercado de trabalho.



Enquanto diversas funções têm desaparecido com o desenvolvimento tecnológico e os avanços da economia digital, uma série de outras profissões têm surgido e despontam com grande potencial de crescimento.



Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostrou que, até 2030, 22,5 milhões de postos de trabalho ligados à construção de infraestrutura verde e à criação de soluções tecnológicas limpas deverão surgir só na América Latina. No Brasil, serão cerca de 10 milhões entre cargos de especialização baixa, média e alta.



Nesse sentido, caberá às empresas se adaptarem a um mundo em transformação. Seja em relação às exigências que a crise ambiental coloca em termos de produção e circulação de bens e serviços, seja para atrair os talentos que chegam ao mercado.



À medida que a apreensão com o clima aumenta, os hábitos de consumo mudam e privilegiam atores comprometidos com a sua preservação. Ao mesmo tempo, a atratividade de uma companhia para profissionais qualificados depende cada vez mais dos valores e das práticas que ela promove.

Por motivos diferentes dos EUA, onda de desligamentos chega ao Brasil


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A chamada “grande renúncia” vem dominando o debate sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos nos últimos meses. Em mais um movimento provocado pela pandemia, milhões de trabalhadores americanos têm abandonado seus empregos voluntariamente.



Por aqui, os pedidos de demissão também têm batido recordes históricos, mas por razões diferentes. Nos Estados Unidos, os trabalhadores que estão deixando seus cargos têm ocupações, renda e qualificações diversas. Com as reconsiderações sobre o sentido, a dinâmica e as relações de trabalho trazidas pela Covid, de um lado, e os programas de proteção social criados pelo governo, de outro, muitos americanos estão revendo os rumos de suas carreiras.



No Brasil, os pedidos de demissão são igualmente expressivos. Entre janeiro e maio deste ano, 2,9 milhões de brasileiros pediram as contas – sem considerar as demissões de comum acordo entre empresa e funcionário. É um recorde e um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano passado.



No entanto, os profissionais que têm abandonado voluntariamente o emprego por aqui se concentram em um grupo específico. A maioria deles é composta de jovens e com maior qualificação do que a média dos brasileiros.



Chama a atenção, ainda, que os pedidos de demissão se destacam na área de tecnologia. Um levantamento de Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) mostrou que, em 2022, 65% dos profissionais de informática se desligaram voluntariamente, à frente dos técnicos em informática (57%) como o subgrupo ocupacional com maior proporção de pedidos de demissão.



Entre os profissionais menos qualificados, os índices de demissão voluntária são muito menores. O mesmo estudo revelou que entre profissionais sem o ensino fundamental completo, uma em cada quatro demissões ocorre a pedido do funcionário. Entre os trabalhadores de nível superior, a mesma proporção é de 48%.



Nem poderia ser diferente para um país desigual como o Brasil, em que a demissão pode significar muitas vezes alta vulnerabilidade e até insegurança alimentar, cujos índices cresceram nos últimos anos.



De toda forma, o aumento do número de demissões é um fenômeno relevante. Ele indica, além do aquecimento do mercado de trabalho na área de tecnologia, a maior disposição dos jovens em rever suas trajetórias e abrir mão da estabilidade no trabalho por novos desafios e oportunidades. Uma mudança e tanto.

Setembro Amarelo: a urgência da agenda da saúde mental nas empresas


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O problema crescente da saúde mental no ambiente corporativo ganhou muita visibilidade nos últimos anos, puxada pela crise da Covid-19. Mas temas como depressão, ansiedade e estresse ainda são tabu em boa parte das empresas e deveriam contar com mais medidas de enfrentamento.



O bem-estar emocional tem estado no centro das atenções quando o assunto é mercado de trabalho. E nem poderia ser diferente na esteira da pandemia e das suas consequências. Um dos efeitos de longo prazo já provados da contaminação por Covid-19 é a deterioração da saúde mental.



Mas além dos desdobramentos da doença, trabalhadores têm sofrido com uma série de mudanças nos últimos anos ao redor do mundo. O trabalho remoto, acelerado pela pandemia, prejudica muitas vezes o equilíbrio entre as vidas profissional e pessoal ao romper a divisão entre a casa e o escritório.



Novas relações de trabalho, baseadas menos em contratos e mais na prestação de serviços, diminuem a estabilidade e aprofundam incertezas para profissionais que acumulam empregos e responsabilidades. Por fim, o ritmo mais acelerado da comunicação e do dia a dia, aliado a maior pressão por desempenho, agrava a ansiedade e o estresse em meio a um mercado cada vez mais pautado pela competição.



O resultado conhecido disso tudo é a explosão de síndromes de burnout e até de tentativas de suicídio por um esgotamento ligado ao trabalho. Diante de um cenário como esse, é urgente que lideranças executivas e corporações tomem medidas para cuidar da saúde mental de seus profissionais. Diversas iniciativas têm sido conduzidas, mas elas devem ser expandidas e multiplicadas por empresas de todas as áreas e tamanhos.



Abaixo, listamos algumas das medidas que podem ser tomadas:



1. Promover um bom ambiente corporativo e desestimular relações baseadas no conflito.



2. Acolher dificuldades e reclamações dos profissionais por meio de um canal que os escute e os proteja, como uma ouvidoria.



3. Identificar e prevenir casos de deterioração da saúde mental dos funcionários, que costumam se manifestar a partir da insatisfação e da falta de motivação.



4. Tratar do tema, conscientizar os colaboradores sobre seus riscos e alertar sobre indícios e formas de buscar ajuda.



5. Garantir algum equilíbrio entre trabalho e descanso por meio de férias, dias de folga e intervalos na jornada



6. Promover momentos de integração e confraternização das equipes.



7. Quando possível, oferecer benefícios ligados ao bem-estar físico e mental, seja por meio de incentivos a tratamentos psicológicos, seja por meio de incentivos à prática de esportes, ao lazer e à cultura.

Os desafios das mulheres que ganham mais do que os parceiros


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Poucas mulheres têm um salário melhor do que seus maridos. No Brasil, as mulheres, em geral, ganham 20% a menos do que os homens. E a diferença é parecida para trabalhadores com a mesma escolaridade e o mesmo tipo de ocupação.



Mas conforme a desigualdade de gênero diminui, mesmo que a um ritmo lento, algumas mulheres têm assumido posições de destaque no mercado de trabalho e chegam a ter um salário maior do que os seus parceiros.



No entanto, embora isso deva ser motivo de orgulho para ambos, mulheres nessa posição costumam sofrer por dois motivos.



Por um lado, elas têm de lidar com o sentimento de humilhação e fragilidade dos maridos nessas situações. Em uma sociedade ainda marcada pelo machismo e por uma divisão clara de tarefas entre os gêneros, homens tendem a se sentir mal quando as mulheres ocupam o papel de provedoras.



Isso pode provocar julgamentos de outras pessoas e instabilidade na relação. Em outros casos, pode despertar diversas formas de violência e opressão de homens que não aceitam o sucesso profissional de suas parceiras.



Por outro lado, mulheres que ganham mais e que, portanto, costumam trabalhar mais que os homens, acabam assumindo também a maior parte do trabalho doméstico. O que faz com que a dupla jornada seja ainda mais exaustiva.



Independentemente de prover a maior parte dos recursos financeiros para a casa, as mulheres não se libertam do trabalho tradicionalmente considerado “feminino”, como cuidar dos filhos e da casa.



Pesquisas têm indicado que mesmo com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a divisão das tarefas domésticas não foi significativamente alterada. Inclusive quando elas ganham mais do que eles. No Reino Unido, por exemplo, um estudo mostrou que 45% das mulheres provedoras são responsáveis pela maioria dos afazeres domésticos, contra somente 12% dos homens que ganham mais que suas esposas.



Outras pesquisas, feitas nos Estados Unidos e na Austrália, revelaram que mesmo que a carga doméstica diminua para mulheres que ascendem na carreira, esse movimento bate num teto rapidamente. Depois de uma mudança inicial, as mulheres voltam a assumir a maior parte do trabalho em casa.



Nesses casos, o estresse profissional se soma a uma sobrecarga de tarefas domésticas e ao desconforto causado por um desequilíbrio mal suportado pelos parceiros. Não por acaso, dados têm indicado que casamentos em que a mulher é a principal provedora têm maiores chances de culminar em um divórcio.



No entanto, esse nem sempre precisa ser o resultado da inclusão das mulheres no mercado e difusão de oportunidades iguais entre os gêneros. As mudanças no trabalho parecem que ocorrem em um ritmo mais acelerado do que aquelas nos costumes e nas tradições.



Mas elas também têm avançado e cada vez é mais comum encontrar pais que levam os filhos para a escola, cozinham e cuidam da casa. Já é tempo, afinal, das transformações no mercado de trabalho chegarem também ao ambiente familiar.

Cidades podem ser melhores ou piores para trabalhar


17/08/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional nunca recebeu tanta atenção como nos últimos anos.



A preocupação com o bem-estar já vinha crescendo, mas ganhou outra proporção com a pandemia de Covid-19, as transformações no trabalho e os efeitos sobre a saúde mental.



A pesquisa Equilíbrio entre Trabalho e Vida Pessoal, da empresa de tecnologia Kisi, no entanto, mostrou que não depende apenas do profissional, ou da tarefa que se realiza, a qualidade da relação que estabelecemos com o trabalho.



A cidade em que se vive, por uma série de fatores, contribui ou prejudica o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. E o estudo classificou as melhores e as piores delas.



Entre as 100 cidades analisadas, São Paulo – a única brasileira na lista – ocupa a 97ª posição. A primeira colocada é Oslo, capital da Noruega, seguida de Berna, capital suíça e Helsinque, capital da Finlândia. Atrás de São Paulo, estão apenas a Cidade do Cabo, na África do Sul, Dubai, nos Emirados Árabes, e Kuala Lumpur, capital da Malásia.



Os critérios para a classificação dos municípios foram divididos em três categorias. A primeira delas buscou medir a intensidade do trabalho por meio de dados como dias de férias, população sobrecarregada, proporção de pessoas com mais de um emprego e dias de licença parental.



Outra categoria levou em consideração a qualidade das instituições e das relações sociais através de indicadores sobre o atendimento de saúde, o acesso a tratamentos de saúde mental, o impacto da Covid-19, inclusão e tolerância às diferenças.



A terceira categoria diz respeito à convivência na cidade, ou seja, opções de cultura e lazer, acessibilidade, segurança, oferta de espaços ao ar livre, transporte e bem-estar. No total, mais de 130 indicadores foram analisados para se chegar ao resultado.



É claro que o equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional dependem do tipo de trabalho e das condições de vida de cada um. Mas ao pensar em realização e bem-estar, não podemos ignorar o lugar onde vivemos. Para além de iniciativas individuais, que podem favorecer ou prejudicar a saúde mental e a relação com o trabalho, políticas públicas ligadas à cidade são imprescindíveis para melhorar esse equilíbrio.