Brasil é o segundo país em número de jovens que nem trabalham nem estudam


14/12/2022
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP

36% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam e não conseguiram se inserir no mercado de trabalho. O índice faz do Brasil o segundo país com a maior proporção de jovens nessas condições, uma geração marcada pela condição chamada “nem-nem”.

Os dados fazem parte de relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne países desenvolvidos e cuja média de jovens que sequer estudam ou trabalham é de 16,6%. O único país com uma taxa acima da brasileira é a África do Sul, com 46%. Além dos países-membros da organização, o estudo levou em conta dados de Brasil, Argentina, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e do país africano.

Um indicador igualmente grave revelado pelo relatório é de que o Brasil também fica na segunda posição no que diz respeito ao tempo que os jovens ficam nessa condição. 5% dos jovens brasileiros sem estudar ou trabalhar estão nesse limbo há mais de um ano. Um dado preocupante à medida que quanto maior o período que o jovem fica inativo maiores as dificuldades de ele integrar o mercado de trabalho.

Com efeito, o documento da OCDE alerta para a necessidade de os países com altos indicadores de jovens “nem-nem” adotarem políticas para combater esse quadro. Além do futuro dessas pessoas, o que está em jogo é o desenvolvimento do país como um todo. Se as próximas gerações de trabalhadores não se qualificam e nem acumulam experiência, as perspectivas de inovação, aumento de produtividade e crescimento econômico são prejudicadas.

Por outro lado, esses dados são fruto de uma realidade marcada pela desigualdade social e a falta de oportunidades. Se jovens das classes altas não encontram problema para iniciar e concluir o ensino superior, o mesmo não pode ser dito sobre aqueles com piores condições financeiras. A diminuição do número de formados nas universidades públicas no último período é expressão disso.

Nesse sentido, o relatório da OCDE sugere a adoção e o fortalecimento de políticas de assistência para que a maioria dos alunos consiga começar e terminar a universidade. O contrário do que ocorreu no Brasil nos últimos anos, em que o orçamento dos programas de auxílio para estudantes diminuiu.

Concomitantemente, é fundamental aumentar a oferta de vagas no ensino superior. Diversas pesquisas já mostraram como a obtenção de um diploma universitário está diretamente ligada a mais oportunidades de emprego e melhores salários. Especialmente em momentos de turbulência econômica, como a provocada pela Covid-19. Quem concluiu o ensino superior teve menos chance de perder o emprego, e quando isso aconteceu, teve mais facilidade para se reinserir no mercado.

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