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Trabalho híbrido é a melhor opção para a saúde mental


12/04/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A discussão em torno da relação entre as diferentes formas de trabalho e a saúde mental explodiu nos últimos anos. Com a pandemia de Covid 19 e o consequente aumento do homeoffice e dos níveis de estresse e ansiedade, profissionais e especialistas passaram a dar muito mais atenção aos efeitos que os modelos de trabalho têm sobre o bem-estar e a produtividade.



Um estudo publicado por pesquisadores das universidades canadenses Simon Fraser e Metropolitana de Toronto trouxe uma nova contribuição a esse debate ao concluir que o trabalho híbrido é mais saudável emocionalmente do que formas totalmente remotas ou presenciais.



Mais de 1570 trabalhadores canadenses participaram da pesquisa e responderam a um questionário sobre o seu bem-estar. Entre aqueles que têm jornadas híbridas, 81% apresentaram indicadores de saúde mental melhores do que aqueles que passam o período integral de trabalho em casa ou no escritório.



Essa não é uma regra universal, pois há outros fatores que contribuem para os níveis de bem-estar. Há também indivíduos que lidam melhor com a totalidade das jornadas remota ou presencialmente.



Mas o resultado do estudo reforça uma impressão disseminada de que a combinação entre dias em casa e dias no escritório é, na média, mais saudável para profissionais que acabam tendo flexibilidade para compromissos pessoais e familiares, típica do homeoffice, sem abrir mão da convivência e da troca, características do trabalho presencial.



É a partir da conexão social com colegas, afinal, que sentimentos de solidão e isolamento no trabalho são mitigados. Sentir-se parte de algo maior é fundamental para o sentido e a realização no trabalho, e presencialmente é muito mais fácil alcançar essa sensação. Por outro lado, a possibilidade de desfrutar de mais tempo para a família e o lazer, e economizar tempo com deslocamentos, tem um efeito conhecidamente positivo.



Como muitas outras coisas na vida, uma mistura equilibrada nos modos de trabalho parece ser a melhor opção para evitar o esgotamento, o estresse e a ansiedade que se tornaram tão presentes no ambiente profissional. Cabe também às empresas, de acordo com as especificidades de suas necessidades, oferecer modelos mais adequados à saúde mental dos colaboradores, cuja produtividade é sempre proporcional ao seu bem-estar.

Trabalho e felicidade: uma relação difícil, mas necessária


24/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Na última segunda-feira, 20 de março, foi comemorado o dia internacional da felicidade. Uma data em que, desde 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra um sentimento central para a vida e o bem-estar humano.



Quando pensamos em felicidade, porém, uma contradição chama a atenção. Uma das ocupações que mais toma o nosso tempo, o trabalho, geralmente não está associada à sensação de felicidade. Pelo contrário, é com tudo aquilo que foge às responsabilidades profissionais que costumamos relacionar momentos de prazer.



Os efeitos negativos disso são diversos. A infelicidade no trabalho provoca, muitas vezes, estresse, ansiedade e depressão. Prejuízos conhecidos para a saúde mental e física e que foram agravados pela pandemia de Covid 19, a expansão do trabalho remoto e a diminuição das relações sociais.



Por outro lado, a felicidade no trabalho está associada a maior bem-estar, mas também ao sucesso profissional. É muito difícil encontrar alguém que seja infeliz no trabalho e que tenha uma carreira bem sucedida. Quem gosta e é feliz com o seu trabalho costuma ser mais produtivo, criativo e motivado.



É claro que nem sempre é fácil ser feliz no trabalho. É impossível ter prazer com todos os compromissos, prazos e responsabilidades. E tampouco controlamos tudo, muitas das atribuições profissionais dependem de colegas e outras pessoas. Mas há muitas coisas que controlamos até o limite em que a única saída para evitar a infelicidade é procurar um novo emprego.



A primeira iniciativa para ser feliz no trabalho é olhar e valorizar os lados positivos da profissão e do cargo que se ocupa. Se pensarmos no emprego apenas como um meio de garantir uma renda, é muito provável que seremos infelizes no dia a dia profissional.



Nesse sentido, é fundamental enxergar o propósito do que se faz. Ao entender as razões e os benefícios coletivos do seu trabalho, você acabará se sentindo parte de algo maior e mais realizado.



Outra medida importante é aceitar e encarar os desafios colocados pelo trabalho. Uma rotina repetitiva e sem novos objetivos desmotiva e acaba sendo monótona. Um envolvimento mais prazeroso com a carreira implica a sensação de acumular novas experiências e habilidades.



Por fim, o bem-estar e a felicidade no trabalho estão diretamente ligados às condições de equilibrar as vidas profissional e pessoal. Sem momentos de descanso e lazer com família e amigos, o estresse e a ansiedade se impõem e tornam impossível uma relação saudável com o trabalho.



Mas não cabe apenas aos próprios profissionais procurar meios de conciliar trabalho e felicidade. As empresas e suas lideranças têm um papel fundamental para garantir esse equilíbrio, que passa, necessariamente, por algum tipo de flexibilidade de regras e exigências. Assim como oferecer perspectivas de crescimento e um ambiente que estimule, mas também apoie e acolha os colaboradores.

Saiba como evitar a procrastinação no trabalho


22/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Todo mundo já se pegou passando horas em redes sociais ou procurando outros afazeres só para não enfrentar os compromissos profissionais. Com o home office, as fontes de distração aumentaram ainda mais e a procrastinação se tornou um problema maior para muitas pessoas.



Adiar tarefas é um dos comportamentos mais comuns e é impossível superar completamente essa tendência. Em diferentes momentos da vida e da carreira, é normal que deixemos para depois aquilo que poderíamos fazer agora.



No entanto, em alguns casos a procrastinação é um problema sério e acaba prejudicando o trabalho e a vida pessoal de muita gente. Além de reduzir a quantidade de coisas que podem ser feitas, o hábito de adiar tarefas gera ansiedade e costuma piorar a qualidade do trabalho.



Afinal, quando se deixa para a última hora a realização de um compromisso profissional, o resultado não é o mesmo comparado a uma empreitada feita com tempo suficiente para o planejamento, a execução e a revisão do trabalho.



Pesquisadores da Universidade de Sorbonne, na França, que estudaram as causas e os efeitos da procrastinação por meio de entrevistas, modelos computacionais e análises neurais recomendam duas formas de enfrentar a procrastinação:



1. Registre lembretes sobre as tarefas



É fundamental lembrar-se a todo momento dos compromissos assumidos e seus prazos. A dica é estabelecer um método para registrar lembretes do que deve ser feito. A probabilidade de adiamentos diminui quando nos deparamos sempre com uma lista de tarefas.



2. Veja-se no futuro



Se o cérebro costuma projetar que as tarefas serão mais simples de serem realizadas no futuro, nos cabe estimulá-lo a operar de outra forma ao imaginar um futuro difícil, sobrecarregado de tarefas e com prazos não cumpridos. É fundamental ter consciência de que protelar o que deve ser feito só causa prejuízos.
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Estudo desfaz estereótipos e mostra que mulheres são tão capazes de liderar quanto homens


07/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



São diversos os preconceitos de gênero presentes no mundo do trabalho e um deles sugere que a liderança seria um atributo masculino. Ou seja, homens teriam, supostamente, uma maior propensão a exercer cargos de liderança com sucesso.



Uma pesquisa do Insper, no entanto, revelou que, de acordo com a percepção dos liderados, as habilidades requeridas para uma boa liderança não são mais encontradas entre homens do que entre mulheres. Ao contrário, não haveria diferença de gênero quando o assunto é dirigir um grupo de subordinados.



Entre outubro de 2021 e julho de 2022, o estudo levou em consideração a opinião de 1.464 profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos. Eles foram consultados sobre as características consideradas essenciais para uma boa liderança: competência, autenticidade, benevolência, humildade e integridade.



As respostas indicaram que homens e mulheres que ocupam posições de direção tiveram a mesma nota em cada uma dessas categorias. Assim como quanto à capacidade que eles têm de promover um ambiente de segurança psicológica, cada vez mais demandado por profissionais de todos os setores.



Tampouco foi identificada qualquer diferença quando o tema é a legitimidade do líder e o apoio que os times lhe oferecem. Ambos os sexos são igualmente avaliados em relação à efetividade e à prototipicalidade (atributo que denota o quanto um chefe é visto como líder ideal).



Os resultados contribuem para superar estereótipos que alimentam preconceitos muito enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho. É ainda quase consensual em alguns meios, infelizmente, a ideia de que líderes homens são mais assertivos e fortes do que líderes mulheres, que seriam mais gentis e humildes, por exemplo. Associações de gênero que comprometem a ascensão de mulheres nas organizações.



Ao ter de corresponder às expectativas ligadas ao gênero, mulheres correm o risco de não estar à altura do que se espera em termos de benevolência e compreensão, de um lado, e de serem julgadas quando têm comportamentos mais associados aos homens e ligados à assertividade.



É verdade, contudo, que esses estereótipos vêm mudando. É cada vez mais aceito que não há apenas um jeito feminino de liderar e cada vez mais comum encontrar lideranças mulheres com práticas e tipos de comportamento muito diferentes entre si.



No ano passado, por volta de 40% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres. Em um universo tão grande e crescente de chefes mulheres, os profissionais vão se acostumando à variedade de maneiras de liderar, independentemente do gênero.



Apesar disso, é fundamental que as empresas se comprometam com iniciativas para quebrar estereótipos de gênero no trabalho. A melhor maneira de combater preconceitos, afinal, é equiparando os cargos de chefia ocupados por homens e mulheres nas companhias.

Trabalho remoto dá sinais de que veio para ficar, mas também enfrenta desafios


15/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Embora o arrefecimento da pandemia tenha diminuído significativamente a prática do teletrabalho, muitos profissionais seguem atuando em casa e não devem voltar tão cedo a frequentar escritórios.



É o que revela um estudo da FGV que comparou dados de outubro de 2021 e outubro de 2022. Nesse período, a porcentagem de empresas que adotam o teletrabalho passou de 58% para 33%, enquanto a proporção de trabalhadores em regime de home office (ou semipresencial) foi de 55% para 34%.



A redução é expressiva, mas o que mais chama a atenção é a permanência de uma parcela importante dos profissionais em modelos de trabalho que, antes da pandemia, eram praticamente inexistentes e só diziam respeito a 7% dos profissionais.



A expectativa geral era de diminuição maior do home office com o fim da crise da Covid, mas isso não aconteceu e a tendência é de que não aconteça daqui em diante. Mesmo que boa parte dos trabalhadores estejam em regime híbrido, ou seja, trabalhando dias alternados em casa e na sede da empresa.



Os motivos para a permanência de muitos profissionais longe dos escritórios são diversas e passam, primeiro, pela produtividade. Por parte das empresas, elas reportam, em média, 23% de aumento na produtividade dos funcionários em home office. Entre os trabalhadores, 41% se considera tanto ou mais produtivo em casa.



Outro fator que incentiva o trabalho remoto diz respeito aos benefícios ligados a ele. A começar pela redução do tempo de locomoção, que tem impacto direto sobre a qualidade de vida.



Mas ainda há desafios. Sobretudo para pequenas e médias empresas, que por vezes encontram limites na incorporação da tecnologia necessária para o trabalho remoto. Por outro lado, há também uma dificuldade no que diz respeito à legislação trabalhista, ainda pouco adaptada a esse modelo de trabalho.



Portanto, se o trabalho remoto veio para ficar, ele encontra algumas barreiras e não se aplica a todas as situações nem a todos os profissionais. De acordo com pesquisa Datafolha de dezembro passado, por exemplo, 45% dos brasileiros ainda defendem uma jornada somente presencial.

Lideranças médias estão mais esgotadas e têm enfrentando maior risco de burnout


01/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os riscos de burnout entre lideranças médias são os mais altos entre os funcionários de escritórios. É o que revelou uma pesquisa do consórcio Future Forum, da empresa americana de software Slack Technologies.



Depois de entrevistar mais de 10 mil profissionais em países como Estados Unidos, França, Japão e Austrália, entre outros, o estudo chegou à conclusão de que 43% dos gestores intermediários se consideram esgotados e com alto risco de burnout.



O índice é maior do que aquele verificado entre executivos (32%) e na liderança sênior (37%). Na média dos funcionários de escritório, a apreensão diante de um possível burnout é de 40%, um aumento de 8% e significativo em relação à última pesquisa, realizada em maio.



Os principais motivos elencados pelos profissionais para o esgotamento dizem respeito à dificuldade de equilibrar as vidas pessoal e profissional e de lidar com altos níveis de estresse e ansiedade. E a causa desse aumento parece estar relacionada, ao menos em parte, ao retorno forçado ao escritório.



Afinal, trabalhadores com flexibilidade de horário se mostraram 26% menos propensos a indicar esgotamento e cinco vezes mais capazes de lidar com o estresse relacionado ao trabalho. Eles ainda relataram uma sensação de produtividade 30% maior do que os profissionais que foram obrigados a voltar a frequentar o escritório e que têm uma jornada com horários mais rígidos.



São conhecidos os muitos efeitos nocivos do esgotamento e do medo de burnout para a relação dos profissionais com o seu trabalho. O estudo da Future Forum revelou que as pessoas que se sentem com burnout relatam níveis de estresse e ansiedade 22 vezes mais altos do que funcionários que não estão esgotados.



A produtividade desses profissionais também é muito prejudicada, com uma piora estimada em 32% e com redução do foco na ordem de 60%. O que acaba implicando em uma relação mais frágil com o propósito do trabalho. Segundo a pesquisa, trabalhadores esgotados se sentem duas vezes mais desconectados dos valores da empresa, de seus gestores, do time do qual fazem parte e da liderança.



Para aumentar o bem-estar e, consequentemente, a produtividade desses profissionais e o seu desejo de permanecer na companhia, é fundamental que as empresas entendam os motivos do esgotamento e adotem estratégias para reduzi-lo. Colaboradores ansiosos, estressados e com risco de burnout são cada vez mais numerosos e esse crescimento precisa ser interrompido o quanto antes para o bem dos negócios e das pessoas.

Janeiro Branco: uma boa oportunidade para pensar e promover a saúde mental


18/01/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Janeiro costuma ser um momento para pensar na vida, refletir sobre o que estamos fazendo, sobre o que queremos do ano que começa e sobre aquilo que precisamos fazer com esse propósito. Convém, portanto, que o mês associado à saúde mental seja justamente o primeiro do ano, por meio da campanha Janeiro Branco.



Neste ano, o tema da campanha é: a vida pede equilíbrio. Algo nada trivial em um mundo permeado de mudanças e novidades. Com o avanço das tecnologias, as comunicações e as relações pessoais e profissionais evoluem a um ritmo cada vez mais acelerado. Ao preço, muitas vezes, da tão necessária estabilidade psicológica.



Com transformações constantes, é difícil manter comportamentos, rotinas, sentimentos e expectativas estáveis. É como se a todo momento tivéssemos de nos adaptar a novidades e readequar nossos modos de vida.



O resultado disso consiste numa dificuldade crescente de alcançar diversos tipos de equilíbrio emocional, dentre eles a desejável harmonia entre as vidas profissional e pessoal. Pois embora a Covid esteja sendo assimilada pela sociedade, os efeitos da pandemia são duradouros e seguem influenciando as formas de trabalho.



O Relatório Mundial de Saúde Mental, da Organização Mundial da Saúde, de junho de 2022, revelou que um bilhão de pessoas sofrem algum transtorno mental. Estimativas da ONU sugerem que 12 bilhões de dia de trabalho são perdidos todos os anos devido à depressão e à ansiedade, com um custo econômico de quase um trilhão de dólares.



É sabido, afinal, que além de deteriorar a saúde física e mental das pessoas, o estresse ligado ao trabalho prejudica consideravelmente a produtividade dos profissionais.



Mas o que se pode fazer?



O primeiro passo é compreender que o bem-estar emocional é tão importante quanto a saúde física. Nesse sentido, avanços importantes têm ocorrido na contramão de uma cultura que ainda cerca de preconceitos e estigmas o tema da saúde mental.



Em seguida, é importante tomar alguns cuidados e algumas atitudes relacionadas ao comportamento cotidiano. Especialistas são unânimes ao recomendar a reserva de um tempo de descanso e lazer, momentos com as pessoas de quem se gosta, a prática de atividades físicas e uma dieta saudável.



Em relação ao trabalho, o desafio é preservar ao máximo um bom equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e a vida pessoal. Saber separar as coisas é imprescindível e aqui estamos falando das horas passadas no escritório ou em home office, mas também do uso indiscriminado de ferramentas de comunicação virtual ligadas às tarefas profissionais.



As empresas, por sua vez, também têm sua responsabilidade. Sabendo dos custos em produtividade de trabalhadores mentalmente adoecidos, cabe a elas investir em iniciativas que promovam o bem-estar emocional e dosar a carga de estresse e ansiedade que recai sobre os ombros dos seus colaboradores.

Brasil é o segundo país em número de jovens que nem trabalham nem estudam


14/12/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



36% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não estudam e não conseguiram se inserir no mercado de trabalho. O índice faz do Brasil o segundo país com a maior proporção de jovens nessas condições, uma geração marcada pela condição chamada “nem-nem”.



Os dados fazem parte de relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), que reúne países desenvolvidos e cuja média de jovens que sequer estudam ou trabalham é de 16,6%. O único país com uma taxa acima da brasileira é a África do Sul, com 46%. Além dos países-membros da organização, o estudo levou em conta dados de Brasil, Argentina, China, Índia, Indonésia, Arábia Saudita e do país africano.



Um indicador igualmente grave revelado pelo relatório é de que o Brasil também fica na segunda posição no que diz respeito ao tempo que os jovens ficam nessa condição. 5% dos jovens brasileiros sem estudar ou trabalhar estão nesse limbo há mais de um ano. Um dado preocupante à medida que quanto maior o período que o jovem fica inativo maiores as dificuldades de ele integrar o mercado de trabalho.



Com efeito, o documento da OCDE alerta para a necessidade de os países com altos indicadores de jovens “nem-nem” adotarem políticas para combater esse quadro. Além do futuro dessas pessoas, o que está em jogo é o desenvolvimento do país como um todo. Se as próximas gerações de trabalhadores não se qualificam e nem acumulam experiência, as perspectivas de inovação, aumento de produtividade e crescimento econômico são prejudicadas.



Por outro lado, esses dados são fruto de uma realidade marcada pela desigualdade social e a falta de oportunidades. Se jovens das classes altas não encontram problema para iniciar e concluir o ensino superior, o mesmo não pode ser dito sobre aqueles com piores condições financeiras. A diminuição do número de formados nas universidades públicas no último período é expressão disso.



Nesse sentido, o relatório da OCDE sugere a adoção e o fortalecimento de políticas de assistência para que a maioria dos alunos consiga começar e terminar a universidade. O contrário do que ocorreu no Brasil nos últimos anos, em que o orçamento dos programas de auxílio para estudantes diminuiu.



Concomitantemente, é fundamental aumentar a oferta de vagas no ensino superior. Diversas pesquisas já mostraram como a obtenção de um diploma universitário está diretamente ligada a mais oportunidades de emprego e melhores salários. Especialmente em momentos de turbulência econômica, como a provocada pela Covid-19. Quem concluiu o ensino superior teve menos chance de perder o emprego, e quando isso aconteceu, teve mais facilidade para se reinserir no mercado.

Tarefas administrativas consomem mais da metade do dia de trabalho


07/12/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os efeitos da pandemia sobre o mundo do trabalho e a rotina dos profissionais foram enormes. Mas ao lado de tantas mudanças, uma coisa permaneceu igual. A quantidade de tempo que gastamos fazendo algo que não fomos contratados para fazer.



Uma pesquisa com mais de 10 mil profissionais ao redor do mundo, realizada pela fabricante de software empresarial Asana, mostrou que os chamados trabalhadores do conhecimento (analistas de dados, designers gráficos, entre outros) usam mais da metade do seu dia para a “coordenação do trabalho”. Ou seja, com tarefas como acompanhamento, reuniões e busca de informações.



O estudo revelou também que atividades de planejamento ou de definição estratégica representaram, em 2021, apenas 9% do dia a dia desses profissionais. Uma queda em relação aos 13% registrados em 2019 e que pode ser explicada pela dificuldade de se fazer planejamentos de longo prazo com a instabilidade provocada pela pandemia.



Há algumas diferenças no uso do tempo de trabalho entre determinados países. Os alemães, por exemplo, perdem menos tempo com tarefas administrativas e de coordenação do que a média global. Por outro lado, dedicam menos horas para planejamentos estratégicos.



No entanto, os resultados são muito próximos ao redor do mundo. Apenas um terço do dia de trabalho costuma ser usado para as atividades centrais de cada funcionário. Reflexo de uma coordenação do trabalho tão complexa que o gerenciamento dessas iniciativas acaba ocupando mais tempo do que deveria.



Diante disso, as empresas têm se esforçado para reduzir o tempo gasto com coordenação e tarefas administrativas. Os resultados, porém, não são tão animadores e o número de reuniões explodiu com a chegada da pandemia. Um problema tão importante quanto a dificuldade de solucioná-lo.

Brasileiros preferem trabalhar mais tempo em casa do que as empresas desejam


24/11/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A distância entre os dias que os trabalhadores brasileiros gostariam de ficar em home-office e o que as empresas do país estão dispostas a permitir que eles o façam é a maior do mundo.



Segundo o estudo Working From Home Around the World (Trabalhando em casa ao redor do mundo), se pudessem escolher, os brasileiros trabalhariam em casa 2,3 dias, em média, por semana. Já as empresas nacionais desejam que o home-office se restrinja, também em média, a 0,8 dia por semana. Contra médias globais de 1,7 e 0,7, respectivamente.



Ainda em meio à retomada das dinâmicas normais de trabalho após o auge da pandemia, os trabalhadores brasileiros têm ficado em casa 1,7 dia, em média, por semana. Um índice um pouco maior do que a média global, de 1,5 dias.



Ou seja, as empresas ainda estão concedendo mais home-office do que intencionam fazer no futuro. O que se explica não mais por exigências ligadas à crise sanitária, mas por escolhas de negócio.



Experiências de diversas empresas e executivos, corroboradas por pesquisas, têm indicado ganhos de produtividade e financeiros para as companhias com o home-office. Quando ficam em casa por opção, profissionais tendem a ficar mais satisfeitos, trabalhar melhor e ter menos vontade de deixar a empresa.



Tudo isso favorece a permanência e até a expansão do home-office. No entanto, algumas áreas e especialmente algumas regiões do mundo são menos afeitas a ele.



Um limite para o trabalho em casa na América do Sul, por exemplo, diz respeito às condições de moradia da população. Em casas onde é difícil acomodar espaços de descanso e de trabalho para um casal, o home-office é comprometido.



Para não falar do avanço ainda lento de mecanismos para a gestão do trabalho feito de casa, especialmente em empresas de menor porte. No Brasil, portanto, não surpreende o fato de a maioria dos casos de home-office ou trabalho híbrido, com dias em casa e dias na empresa, estar concentrada em grandes multinacionais, com ferramentas mais desenvolvidas para avaliação e acompanhamento das tarefas dos funcionários.



Outro obstáculo para o trabalho remoto é a cultura. Enquanto o profissional enxerga ganhos de produtividade ficando em casa, sobretudo com o tempo economizado com deslocamento e o maior bem-estar, muitas empresas ainda desconfiam de que esses ganhos podem se estender no longo prazo.



A mesma pesquisa mostrou, inclusive, que diversos trabalhadores estariam dispostos a abrir mão de parte do salário pelo home-office. Em média, eles renunciaram a 5% (7,4% no Brasil) da remuneração para ficar em casa dois ou três dias por semana.



É claro que o home-office ainda é uma realidade para uma parcela pequena dos profissionais brasileiros. Mas com o aumento de vagas cujas responsabilidades podem ser realizadas à distância, vai ser incontornável que empregados e empregadores encontrem um meio termo para suas expectativas. Tanto para garantir o bom desempenho das tarefas quanto a satisfação de profissionais acostumados a novas rotinas de trabalho.