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Maioria dos brasileiros sofreu com estresse e crise emocional no trabalho recentemente


27/09/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Setembro já está chegando ao fim, mas a questão da saúde mental não pode sair da pauta e das preocupações da sociedade, especialmente no que diz respeito ao trabalho.



O tema do estresse, da ansiedade e da depressão ligados à rotina e às obrigações profissionais ocupa, hoje, muito mais espaço no debate público do que antes da pandemia. No entanto, esse espaço ainda é insuficiente diante da necessidade de medidas cada vez mais fortes e numerosas para lidar com esse problema.



A realidade, afinal, tem se mostrado cruel com profissionais de todos os tipos. Dados recentes da pesquisa “Saúde Mental no Trabalho 2023”, da plataforma Think Word, mostram que 90% dos trabalhadores brasileiros acreditam que seu trabalho provoca algum nível de estresse e 63% dizem ter enfrentado ao menos uma crise emocional nos últimos seis meses.



A pesquisa levou em conta respostas de 650 pessoas e reforça o quadro crítico da saúde mental no trabalho no Brasil, a exemplo de dados similares encontrados mundialmente. Para 30% deles, a quantidade de trabalho aumentou e o acúmulo de responsabilidades os impediu de tirar férias.



Com efeito, 41% dos participantes do estudo disseram não ter aproveitado integralmente as férias às quais teriam direito. Mais impressionante – e preocupante – ainda é o dado de que, uma vez em férias, as pessoas não conseguem descansar e se desconectar de suas tarefas.



Somente 41% dos que conseguiram se desligar do trabalho se sentiram bem na maior parte das férias, contra 36% dos que continuaram com afazeres durante o período de descanso.



A pesquisa mostra, portanto, que o trabalho assumiu não apenas uma dinâmica mais intensa, com um ritmo acelerado de comunicação, entregas e afazeres. A evolução das tecnologias de informação e a superposição cada vez maior entre trabalho e vida pessoal fizeram com que os profissionais tenham dificuldade de descansar plenamente. O estresse com as responsabilidades e o medo de deixar de cumpri-las significa uma preocupação constante, o que aumenta o risco de crises emocionais.



Daí a importância de companhias e lideranças se atentarem para o tema da sobrecarga de trabalho e a relação com a saúde mental de seus colaboradores. Conforme eles entram numa lógica perversa de ansiedade, estresse e, às vezes, depressão, o trabalho perde sua dimensão positiva ligada à motivação, à realização e ao sentido que ele carrega.



Profissionais cansados e consumidos pelo excesso e pelo peso emocional do trabalho não podem render e produzir da melhor maneira. Alternativas deverão ser encontradas para revertermos esse ciclo e garantir algo fundamental para a produtividade e o sucesso de empresas e equipes: o bem estar de seus membros.

Semana de 4 dias chega ao Brasil


06/09/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



O que para muita gente parecia um sonho está se tornando realidade. Em dezembro, empresas brasileiras vão começar a testar semanas de trabalho de apenas 4 dias –e sem redução de salário.



A iniciativa é coordenada pela 4 Day Week, organização global que estimula novas formas de trabalho e que tem se dedicado a experiências de redução dos tradicionais 5 dias semanais ao redor do mundo.



Na América Latina, o primeiro teste vai acontecer no Brasil e interessados podem inscrever suas empresas até o fim de agosto. O esperado é que em torno de 30 a 50 companhias participem da experiência.


Empresas de diferentes áreas e tamanhos serão contempladas durante um percurso em que o objetivo é medir os efeitos da mudança sobre a produtividade dos funcionários e sobre a qualidade do ambiente de trabalho.



O desafio não é fácil, pois envolve práticas arraigadas e culturas já estabelecidas das companhias. O ponto central na empreitada é a redução do número e da duração das reuniões. Em geral, alguns dos participantes de reuniões não precisavam estar ali e estão deixando de produzir durante aquele período.



A experiência dos 4 dias passa, portanto, inevitavelmente por rever critérios para reuniões e a necessidade de convocar mais ou menos participantes. Assim como por rever processos e fluxos de comunicação dentro da empresa.



Até agora, os resultados têm sido positivos nos países onde o modelo já foi implementado. No Reino Unido, das 61 empresas que participaram da experiência com a 4 Day Week, 38 optaram por manter o teste e 18 aderiram à semana de quatro dias.


Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Irlanda são outros países envolvidos na iniciativa, que evita compensar a redução dos dias de trabalho com jornadas mais longas. Um imperativo do teste é restringir a 32 horas o tempo de trabalho semanal e deixar para o dia de folga compromissos pessoais e momentos mais amplos de lazer.



A aposta, que vem se mostrando bem sucedida, é de aumentar o descanso proporcionalmente à produtividade. No fim das contas, trabalha-se menos, mas melhor. Ganham a empresa e os profissionais.

Para alguns, jornada de trabalho tem obedecido a novos padrões


31/05/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Não é novidade que a pandemia alterou a rotina de trabalho de muita gente. Se antes havia uma separação clara entre as vidas pessoal e profissional, hoje em dia já não é mais assim.



Tarefas profissionais intercaladas com o cuidado com os filhos. Exercício físico em horário comercial. Reuniões online durante o café da manhã. São todos exemplos de práticas incomuns quando o expediente no escritório era regra geral.



E uma pesquisa realizada pela Microsoft constatou que a jornada de trabalho tradicional, das 9h até as 17h ou 18h, está com os dias contados, ao menos para alguns profissionais, em tempo de trabalho híbrido e horários mais flexíveis.



Durante a pandemia, pesquisadores da empresa já haviam constatado que as conversas profissionais pelo aplicativo Teams haviam aumentado significativamente entre 18h e 20h. E dados mais recentes coletados pela Microsoft em suas ferramentas de comunicação digital mostram que a mudança veio para ficar.



Os trabalhadores do conhecimento, que podem e ficam cada vez mais em casa, passaram a ter outro pico de produtividade. Historicamente, os momentos de maior produtividade desses profissionais se davam antes e depois do almoço. Agora, eles têm um terceiro pico nas horas que antecedem a ida para a cama.



Os motivos para esse fenômeno são variados. Pais de crianças que passam parte do dia em casa aproveitam o momento em que elas estão dormindo para trabalhar com mais calma. Há quem aproveite a flexibilidade de horários para fazer outras coisas durante o dia e trabalhar à noite. E há também quem valorize a paz da noite, sem ligações e distrações do dia, para se concentrar de verdade.



A flexibilidade e a possibilidade de escolher melhor a maneira de organizar o dia é bom. Mas essas mudanças colocam uma questão importante: o novo pico de trabalho é reflexo da flexibilidade ou de mais trabalho em uma época em que a separação entre vida pessoal e profissional é cada vez mais fluida?



É verdade que muita gente consegue equilibrar de maneira saudável os compromissos profissionais com afazeres pessoais e o lazer. Essas pessoas lidam bem com a prática de fazer o que querem durante o dia e compensar esse tempo trabalhando à noite.



Muitos outros, no entanto, sofrem os efeitos de pensar que a todo momento poderiam estar trabalhando. É o fim da liberdade do fim do expediente e da partida do escritório e a entrada em um estado de alerta e trabalho permanente.



Os dados da Microsoft mostram que há bastante gente trabalhando intensamente nos três picos, sem descanso ou paradas consideráveis. É a receita perfeita para o esgotamento físico e mental e, em casos extremos, o burnout.



Para evitar esse estresse constante ligado ao trabalho, porém, algumas coisas podem ser feitas. A primeira delas é o estabelecimento de normas claras de horários e responsabilidades. E como cada pessoa é diferente, a empatia e a comunicação entre lideranças e colaboradores é fundamental.



Outra medida importante diz respeito às trocas de mensagens eletrônicas. Aceitar que aquilo que não é urgente pode esperar para ser respondido é crucial diante da aparente necessidade de responder imediatamente a tudo. Nesse sentido, combinados entre equipes sobre horários para mandar e responder mensagens pode ser uma boa iniciativa.



O foco hoje não deve ser em quando e aonde a pessoa está trabalhando, mas em como essa mesma pessoa pode trabalhar melhor. E dentro das possibilidades, empresas e líderes devem levar as particularidades de cada funcionário em consideração para equilibrar flexibilidade, produtividade e bem-estar.

Tecnologia e sustentabilidade serão centrais no futuro do trabalho


31/05/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



As transformações do mercado de trabalho, cada vez mais rápidas, não são novidade para ninguém.



Mas o ritmo acelerado continua surpreendendo. De acordo com o último relatório sobre o futuro do mercado de trabalho, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, até um quarto dos empregos ao redor do mundo deverão se transformar nos próximos 5 anos.



Nesse período, 83 milhões de postos de trabalho serão eliminados e 69 milhões serão criados. Dentre eles, se destacam as áreas de tecnologia e de sustentabilidade.



A pesquisa anual do Fórum Econômico ouviu 803 companhias de 27 setores diferentes em todas as regiões do mundo. As áreas que apareceram como as mais promissoras para a criação de vagas correspondem ao desenvolvimento tecnológico e à transição verde das empresas.



Com efeito, especialistas em inteligência artificial e especialistas em sustentabilidade ocupam as primeiras posições no ranking de profissões do futuro que devem gerar mais vagas de trabalho até 2027.



Com o avanço rápido e robusto da inteligência artificial, de um lado, e os imperativos de proteção do meio ambiente, por outro, oportunidades nesses campos crescem a cada dia.



Só no Brasil, um estudo recente da Organização Internacional do Trabalho estima que, até 2030, mais de 7 milhões de postos de trabalho relacionados à governança social e ambiental das empresas serão criados.



No entanto, a mera especialização dos profissionais nessas áreas não é suficiente para assegurar uma boa carreira. Afinal, uma especificidade desses campos de atuação é a necessidade de atualização constante das competências.



O próprio relatório do Fórum Econômico Mundial chama atenção para a disparidade entre as qualificações dos profissionais de hoje e as habilidades que serão exigidas no futuro próximo.



Portanto, não basta escolher áreas com bom potencial de geração de oportunidades. É fundamental que as escolhas sejam acompanhadas de estudos e treinamento permanentes.

Trabalho híbrido é a melhor opção para a saúde mental


12/04/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A discussão em torno da relação entre as diferentes formas de trabalho e a saúde mental explodiu nos últimos anos. Com a pandemia de Covid 19 e o consequente aumento do homeoffice e dos níveis de estresse e ansiedade, profissionais e especialistas passaram a dar muito mais atenção aos efeitos que os modelos de trabalho têm sobre o bem-estar e a produtividade.



Um estudo publicado por pesquisadores das universidades canadenses Simon Fraser e Metropolitana de Toronto trouxe uma nova contribuição a esse debate ao concluir que o trabalho híbrido é mais saudável emocionalmente do que formas totalmente remotas ou presenciais.



Mais de 1570 trabalhadores canadenses participaram da pesquisa e responderam a um questionário sobre o seu bem-estar. Entre aqueles que têm jornadas híbridas, 81% apresentaram indicadores de saúde mental melhores do que aqueles que passam o período integral de trabalho em casa ou no escritório.



Essa não é uma regra universal, pois há outros fatores que contribuem para os níveis de bem-estar. Há também indivíduos que lidam melhor com a totalidade das jornadas remota ou presencialmente.



Mas o resultado do estudo reforça uma impressão disseminada de que a combinação entre dias em casa e dias no escritório é, na média, mais saudável para profissionais que acabam tendo flexibilidade para compromissos pessoais e familiares, típica do homeoffice, sem abrir mão da convivência e da troca, características do trabalho presencial.



É a partir da conexão social com colegas, afinal, que sentimentos de solidão e isolamento no trabalho são mitigados. Sentir-se parte de algo maior é fundamental para o sentido e a realização no trabalho, e presencialmente é muito mais fácil alcançar essa sensação. Por outro lado, a possibilidade de desfrutar de mais tempo para a família e o lazer, e economizar tempo com deslocamentos, tem um efeito conhecidamente positivo.



Como muitas outras coisas na vida, uma mistura equilibrada nos modos de trabalho parece ser a melhor opção para evitar o esgotamento, o estresse e a ansiedade que se tornaram tão presentes no ambiente profissional. Cabe também às empresas, de acordo com as especificidades de suas necessidades, oferecer modelos mais adequados à saúde mental dos colaboradores, cuja produtividade é sempre proporcional ao seu bem-estar.

Trabalho e felicidade: uma relação difícil, mas necessária


24/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Na última segunda-feira, 20 de março, foi comemorado o dia internacional da felicidade. Uma data em que, desde 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra um sentimento central para a vida e o bem-estar humano.



Quando pensamos em felicidade, porém, uma contradição chama a atenção. Uma das ocupações que mais toma o nosso tempo, o trabalho, geralmente não está associada à sensação de felicidade. Pelo contrário, é com tudo aquilo que foge às responsabilidades profissionais que costumamos relacionar momentos de prazer.



Os efeitos negativos disso são diversos. A infelicidade no trabalho provoca, muitas vezes, estresse, ansiedade e depressão. Prejuízos conhecidos para a saúde mental e física e que foram agravados pela pandemia de Covid 19, a expansão do trabalho remoto e a diminuição das relações sociais.



Por outro lado, a felicidade no trabalho está associada a maior bem-estar, mas também ao sucesso profissional. É muito difícil encontrar alguém que seja infeliz no trabalho e que tenha uma carreira bem sucedida. Quem gosta e é feliz com o seu trabalho costuma ser mais produtivo, criativo e motivado.



É claro que nem sempre é fácil ser feliz no trabalho. É impossível ter prazer com todos os compromissos, prazos e responsabilidades. E tampouco controlamos tudo, muitas das atribuições profissionais dependem de colegas e outras pessoas. Mas há muitas coisas que controlamos até o limite em que a única saída para evitar a infelicidade é procurar um novo emprego.



A primeira iniciativa para ser feliz no trabalho é olhar e valorizar os lados positivos da profissão e do cargo que se ocupa. Se pensarmos no emprego apenas como um meio de garantir uma renda, é muito provável que seremos infelizes no dia a dia profissional.



Nesse sentido, é fundamental enxergar o propósito do que se faz. Ao entender as razões e os benefícios coletivos do seu trabalho, você acabará se sentindo parte de algo maior e mais realizado.



Outra medida importante é aceitar e encarar os desafios colocados pelo trabalho. Uma rotina repetitiva e sem novos objetivos desmotiva e acaba sendo monótona. Um envolvimento mais prazeroso com a carreira implica a sensação de acumular novas experiências e habilidades.



Por fim, o bem-estar e a felicidade no trabalho estão diretamente ligados às condições de equilibrar as vidas profissional e pessoal. Sem momentos de descanso e lazer com família e amigos, o estresse e a ansiedade se impõem e tornam impossível uma relação saudável com o trabalho.



Mas não cabe apenas aos próprios profissionais procurar meios de conciliar trabalho e felicidade. As empresas e suas lideranças têm um papel fundamental para garantir esse equilíbrio, que passa, necessariamente, por algum tipo de flexibilidade de regras e exigências. Assim como oferecer perspectivas de crescimento e um ambiente que estimule, mas também apoie e acolha os colaboradores.

Saiba como evitar a procrastinação no trabalho


22/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Todo mundo já se pegou passando horas em redes sociais ou procurando outros afazeres só para não enfrentar os compromissos profissionais. Com o home office, as fontes de distração aumentaram ainda mais e a procrastinação se tornou um problema maior para muitas pessoas.



Adiar tarefas é um dos comportamentos mais comuns e é impossível superar completamente essa tendência. Em diferentes momentos da vida e da carreira, é normal que deixemos para depois aquilo que poderíamos fazer agora.



No entanto, em alguns casos a procrastinação é um problema sério e acaba prejudicando o trabalho e a vida pessoal de muita gente. Além de reduzir a quantidade de coisas que podem ser feitas, o hábito de adiar tarefas gera ansiedade e costuma piorar a qualidade do trabalho.



Afinal, quando se deixa para a última hora a realização de um compromisso profissional, o resultado não é o mesmo comparado a uma empreitada feita com tempo suficiente para o planejamento, a execução e a revisão do trabalho.



Pesquisadores da Universidade de Sorbonne, na França, que estudaram as causas e os efeitos da procrastinação por meio de entrevistas, modelos computacionais e análises neurais recomendam duas formas de enfrentar a procrastinação:



1. Registre lembretes sobre as tarefas



É fundamental lembrar-se a todo momento dos compromissos assumidos e seus prazos. A dica é estabelecer um método para registrar lembretes do que deve ser feito. A probabilidade de adiamentos diminui quando nos deparamos sempre com uma lista de tarefas.



2. Veja-se no futuro



Se o cérebro costuma projetar que as tarefas serão mais simples de serem realizadas no futuro, nos cabe estimulá-lo a operar de outra forma ao imaginar um futuro difícil, sobrecarregado de tarefas e com prazos não cumpridos. É fundamental ter consciência de que protelar o que deve ser feito só causa prejuízos.
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Estudo desfaz estereótipos e mostra que mulheres são tão capazes de liderar quanto homens


07/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



São diversos os preconceitos de gênero presentes no mundo do trabalho e um deles sugere que a liderança seria um atributo masculino. Ou seja, homens teriam, supostamente, uma maior propensão a exercer cargos de liderança com sucesso.



Uma pesquisa do Insper, no entanto, revelou que, de acordo com a percepção dos liderados, as habilidades requeridas para uma boa liderança não são mais encontradas entre homens do que entre mulheres. Ao contrário, não haveria diferença de gênero quando o assunto é dirigir um grupo de subordinados.



Entre outubro de 2021 e julho de 2022, o estudo levou em consideração a opinião de 1.464 profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos. Eles foram consultados sobre as características consideradas essenciais para uma boa liderança: competência, autenticidade, benevolência, humildade e integridade.



As respostas indicaram que homens e mulheres que ocupam posições de direção tiveram a mesma nota em cada uma dessas categorias. Assim como quanto à capacidade que eles têm de promover um ambiente de segurança psicológica, cada vez mais demandado por profissionais de todos os setores.



Tampouco foi identificada qualquer diferença quando o tema é a legitimidade do líder e o apoio que os times lhe oferecem. Ambos os sexos são igualmente avaliados em relação à efetividade e à prototipicalidade (atributo que denota o quanto um chefe é visto como líder ideal).



Os resultados contribuem para superar estereótipos que alimentam preconceitos muito enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho. É ainda quase consensual em alguns meios, infelizmente, a ideia de que líderes homens são mais assertivos e fortes do que líderes mulheres, que seriam mais gentis e humildes, por exemplo. Associações de gênero que comprometem a ascensão de mulheres nas organizações.



Ao ter de corresponder às expectativas ligadas ao gênero, mulheres correm o risco de não estar à altura do que se espera em termos de benevolência e compreensão, de um lado, e de serem julgadas quando têm comportamentos mais associados aos homens e ligados à assertividade.



É verdade, contudo, que esses estereótipos vêm mudando. É cada vez mais aceito que não há apenas um jeito feminino de liderar e cada vez mais comum encontrar lideranças mulheres com práticas e tipos de comportamento muito diferentes entre si.



No ano passado, por volta de 40% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres. Em um universo tão grande e crescente de chefes mulheres, os profissionais vão se acostumando à variedade de maneiras de liderar, independentemente do gênero.



Apesar disso, é fundamental que as empresas se comprometam com iniciativas para quebrar estereótipos de gênero no trabalho. A melhor maneira de combater preconceitos, afinal, é equiparando os cargos de chefia ocupados por homens e mulheres nas companhias.

Trabalho remoto dá sinais de que veio para ficar, mas também enfrenta desafios


15/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Embora o arrefecimento da pandemia tenha diminuído significativamente a prática do teletrabalho, muitos profissionais seguem atuando em casa e não devem voltar tão cedo a frequentar escritórios.



É o que revela um estudo da FGV que comparou dados de outubro de 2021 e outubro de 2022. Nesse período, a porcentagem de empresas que adotam o teletrabalho passou de 58% para 33%, enquanto a proporção de trabalhadores em regime de home office (ou semipresencial) foi de 55% para 34%.



A redução é expressiva, mas o que mais chama a atenção é a permanência de uma parcela importante dos profissionais em modelos de trabalho que, antes da pandemia, eram praticamente inexistentes e só diziam respeito a 7% dos profissionais.



A expectativa geral era de diminuição maior do home office com o fim da crise da Covid, mas isso não aconteceu e a tendência é de que não aconteça daqui em diante. Mesmo que boa parte dos trabalhadores estejam em regime híbrido, ou seja, trabalhando dias alternados em casa e na sede da empresa.



Os motivos para a permanência de muitos profissionais longe dos escritórios são diversas e passam, primeiro, pela produtividade. Por parte das empresas, elas reportam, em média, 23% de aumento na produtividade dos funcionários em home office. Entre os trabalhadores, 41% se considera tanto ou mais produtivo em casa.



Outro fator que incentiva o trabalho remoto diz respeito aos benefícios ligados a ele. A começar pela redução do tempo de locomoção, que tem impacto direto sobre a qualidade de vida.



Mas ainda há desafios. Sobretudo para pequenas e médias empresas, que por vezes encontram limites na incorporação da tecnologia necessária para o trabalho remoto. Por outro lado, há também uma dificuldade no que diz respeito à legislação trabalhista, ainda pouco adaptada a esse modelo de trabalho.



Portanto, se o trabalho remoto veio para ficar, ele encontra algumas barreiras e não se aplica a todas as situações nem a todos os profissionais. De acordo com pesquisa Datafolha de dezembro passado, por exemplo, 45% dos brasileiros ainda defendem uma jornada somente presencial.

Lideranças médias estão mais esgotadas e têm enfrentando maior risco de burnout


01/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os riscos de burnout entre lideranças médias são os mais altos entre os funcionários de escritórios. É o que revelou uma pesquisa do consórcio Future Forum, da empresa americana de software Slack Technologies.



Depois de entrevistar mais de 10 mil profissionais em países como Estados Unidos, França, Japão e Austrália, entre outros, o estudo chegou à conclusão de que 43% dos gestores intermediários se consideram esgotados e com alto risco de burnout.



O índice é maior do que aquele verificado entre executivos (32%) e na liderança sênior (37%). Na média dos funcionários de escritório, a apreensão diante de um possível burnout é de 40%, um aumento de 8% e significativo em relação à última pesquisa, realizada em maio.



Os principais motivos elencados pelos profissionais para o esgotamento dizem respeito à dificuldade de equilibrar as vidas pessoal e profissional e de lidar com altos níveis de estresse e ansiedade. E a causa desse aumento parece estar relacionada, ao menos em parte, ao retorno forçado ao escritório.



Afinal, trabalhadores com flexibilidade de horário se mostraram 26% menos propensos a indicar esgotamento e cinco vezes mais capazes de lidar com o estresse relacionado ao trabalho. Eles ainda relataram uma sensação de produtividade 30% maior do que os profissionais que foram obrigados a voltar a frequentar o escritório e que têm uma jornada com horários mais rígidos.



São conhecidos os muitos efeitos nocivos do esgotamento e do medo de burnout para a relação dos profissionais com o seu trabalho. O estudo da Future Forum revelou que as pessoas que se sentem com burnout relatam níveis de estresse e ansiedade 22 vezes mais altos do que funcionários que não estão esgotados.



A produtividade desses profissionais também é muito prejudicada, com uma piora estimada em 32% e com redução do foco na ordem de 60%. O que acaba implicando em uma relação mais frágil com o propósito do trabalho. Segundo a pesquisa, trabalhadores esgotados se sentem duas vezes mais desconectados dos valores da empresa, de seus gestores, do time do qual fazem parte e da liderança.



Para aumentar o bem-estar e, consequentemente, a produtividade desses profissionais e o seu desejo de permanecer na companhia, é fundamental que as empresas entendam os motivos do esgotamento e adotem estratégias para reduzi-lo. Colaboradores ansiosos, estressados e com risco de burnout são cada vez mais numerosos e esse crescimento precisa ser interrompido o quanto antes para o bem dos negócios e das pessoas.