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Semana de 4 dias chega ao Brasil


06/09/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



O que para muita gente parecia um sonho está se tornando realidade. Em dezembro, empresas brasileiras vão começar a testar semanas de trabalho de apenas 4 dias –e sem redução de salário.



A iniciativa é coordenada pela 4 Day Week, organização global que estimula novas formas de trabalho e que tem se dedicado a experiências de redução dos tradicionais 5 dias semanais ao redor do mundo.



Na América Latina, o primeiro teste vai acontecer no Brasil e interessados podem inscrever suas empresas até o fim de agosto. O esperado é que em torno de 30 a 50 companhias participem da experiência.


Empresas de diferentes áreas e tamanhos serão contempladas durante um percurso em que o objetivo é medir os efeitos da mudança sobre a produtividade dos funcionários e sobre a qualidade do ambiente de trabalho.



O desafio não é fácil, pois envolve práticas arraigadas e culturas já estabelecidas das companhias. O ponto central na empreitada é a redução do número e da duração das reuniões. Em geral, alguns dos participantes de reuniões não precisavam estar ali e estão deixando de produzir durante aquele período.



A experiência dos 4 dias passa, portanto, inevitavelmente por rever critérios para reuniões e a necessidade de convocar mais ou menos participantes. Assim como por rever processos e fluxos de comunicação dentro da empresa.



Até agora, os resultados têm sido positivos nos países onde o modelo já foi implementado. No Reino Unido, das 61 empresas que participaram da experiência com a 4 Day Week, 38 optaram por manter o teste e 18 aderiram à semana de quatro dias.


Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e Irlanda são outros países envolvidos na iniciativa, que evita compensar a redução dos dias de trabalho com jornadas mais longas. Um imperativo do teste é restringir a 32 horas o tempo de trabalho semanal e deixar para o dia de folga compromissos pessoais e momentos mais amplos de lazer.



A aposta, que vem se mostrando bem sucedida, é de aumentar o descanso proporcionalmente à produtividade. No fim das contas, trabalha-se menos, mas melhor. Ganham a empresa e os profissionais.

Para alguns, jornada de trabalho tem obedecido a novos padrões


31/05/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Não é novidade que a pandemia alterou a rotina de trabalho de muita gente. Se antes havia uma separação clara entre as vidas pessoal e profissional, hoje em dia já não é mais assim.



Tarefas profissionais intercaladas com o cuidado com os filhos. Exercício físico em horário comercial. Reuniões online durante o café da manhã. São todos exemplos de práticas incomuns quando o expediente no escritório era regra geral.



E uma pesquisa realizada pela Microsoft constatou que a jornada de trabalho tradicional, das 9h até as 17h ou 18h, está com os dias contados, ao menos para alguns profissionais, em tempo de trabalho híbrido e horários mais flexíveis.



Durante a pandemia, pesquisadores da empresa já haviam constatado que as conversas profissionais pelo aplicativo Teams haviam aumentado significativamente entre 18h e 20h. E dados mais recentes coletados pela Microsoft em suas ferramentas de comunicação digital mostram que a mudança veio para ficar.



Os trabalhadores do conhecimento, que podem e ficam cada vez mais em casa, passaram a ter outro pico de produtividade. Historicamente, os momentos de maior produtividade desses profissionais se davam antes e depois do almoço. Agora, eles têm um terceiro pico nas horas que antecedem a ida para a cama.



Os motivos para esse fenômeno são variados. Pais de crianças que passam parte do dia em casa aproveitam o momento em que elas estão dormindo para trabalhar com mais calma. Há quem aproveite a flexibilidade de horários para fazer outras coisas durante o dia e trabalhar à noite. E há também quem valorize a paz da noite, sem ligações e distrações do dia, para se concentrar de verdade.



A flexibilidade e a possibilidade de escolher melhor a maneira de organizar o dia é bom. Mas essas mudanças colocam uma questão importante: o novo pico de trabalho é reflexo da flexibilidade ou de mais trabalho em uma época em que a separação entre vida pessoal e profissional é cada vez mais fluida?



É verdade que muita gente consegue equilibrar de maneira saudável os compromissos profissionais com afazeres pessoais e o lazer. Essas pessoas lidam bem com a prática de fazer o que querem durante o dia e compensar esse tempo trabalhando à noite.



Muitos outros, no entanto, sofrem os efeitos de pensar que a todo momento poderiam estar trabalhando. É o fim da liberdade do fim do expediente e da partida do escritório e a entrada em um estado de alerta e trabalho permanente.



Os dados da Microsoft mostram que há bastante gente trabalhando intensamente nos três picos, sem descanso ou paradas consideráveis. É a receita perfeita para o esgotamento físico e mental e, em casos extremos, o burnout.



Para evitar esse estresse constante ligado ao trabalho, porém, algumas coisas podem ser feitas. A primeira delas é o estabelecimento de normas claras de horários e responsabilidades. E como cada pessoa é diferente, a empatia e a comunicação entre lideranças e colaboradores é fundamental.



Outra medida importante diz respeito às trocas de mensagens eletrônicas. Aceitar que aquilo que não é urgente pode esperar para ser respondido é crucial diante da aparente necessidade de responder imediatamente a tudo. Nesse sentido, combinados entre equipes sobre horários para mandar e responder mensagens pode ser uma boa iniciativa.



O foco hoje não deve ser em quando e aonde a pessoa está trabalhando, mas em como essa mesma pessoa pode trabalhar melhor. E dentro das possibilidades, empresas e líderes devem levar as particularidades de cada funcionário em consideração para equilibrar flexibilidade, produtividade e bem-estar.

Tecnologia e sustentabilidade serão centrais no futuro do trabalho


31/05/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



As transformações do mercado de trabalho, cada vez mais rápidas, não são novidade para ninguém.



Mas o ritmo acelerado continua surpreendendo. De acordo com o último relatório sobre o futuro do mercado de trabalho, divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, até um quarto dos empregos ao redor do mundo deverão se transformar nos próximos 5 anos.



Nesse período, 83 milhões de postos de trabalho serão eliminados e 69 milhões serão criados. Dentre eles, se destacam as áreas de tecnologia e de sustentabilidade.



A pesquisa anual do Fórum Econômico ouviu 803 companhias de 27 setores diferentes em todas as regiões do mundo. As áreas que apareceram como as mais promissoras para a criação de vagas correspondem ao desenvolvimento tecnológico e à transição verde das empresas.



Com efeito, especialistas em inteligência artificial e especialistas em sustentabilidade ocupam as primeiras posições no ranking de profissões do futuro que devem gerar mais vagas de trabalho até 2027.



Com o avanço rápido e robusto da inteligência artificial, de um lado, e os imperativos de proteção do meio ambiente, por outro, oportunidades nesses campos crescem a cada dia.



Só no Brasil, um estudo recente da Organização Internacional do Trabalho estima que, até 2030, mais de 7 milhões de postos de trabalho relacionados à governança social e ambiental das empresas serão criados.



No entanto, a mera especialização dos profissionais nessas áreas não é suficiente para assegurar uma boa carreira. Afinal, uma especificidade desses campos de atuação é a necessidade de atualização constante das competências.



O próprio relatório do Fórum Econômico Mundial chama atenção para a disparidade entre as qualificações dos profissionais de hoje e as habilidades que serão exigidas no futuro próximo.



Portanto, não basta escolher áreas com bom potencial de geração de oportunidades. É fundamental que as escolhas sejam acompanhadas de estudos e treinamento permanentes.

78% dos executivos sofrem com Líderes tóxicos no Brasil


17/05/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Muitos profissionais já passaram por isso. Líderes que cobram de maneira excessiva, que rebaixam e humilham, que demoram muito para responder questões urgentes e que fazem cobranças que parecem sutis, mas que abalam emocionalmente seus subordinados.



Mas o tamanho do problema é maior do que se imagina. Uma pesquisa da consultoria em gestão e educação executiva BTA Associados revelou que 78% dos altos executivos brasileiros são ou já foram vítimas de assédio moral por parte de seus líderes.



Dos 321 profissionais dos níveis de gerência, diretoria, presidência e conselhos de empresa entrevistados entre março e abril deste ano, quase 8 a cada 10 afirmaram que trabalham ou já trabalharam com um líder tóxico.



Algumas características foram mencionadas como atributos de lideranças que praticam algum tipo de assédio moral. As relatadas como as mais comuns foram, nessa ordem: desonestidade; agressividade; desrespeito; narcisismo; e incompetência.



A alternativa oposta ao líder tóxico, chamada pelos pesquisadores de líderes de referência, reúne, segundo os entrevistados, características como: integridade; abertura a ouvir e boa comunicação; visão estratégica; e competência técnica.



Além de impactos sobre os resultados do trabalho em si, a relação com um superior mediada pelo assédio moral tem uma série de consequências sobre a saúde mental dos profissionais. 42% dos executivos entrevistados relataram experimentar um alto nível de angústia, 60% deles de ansiedade e 62% enfrentam um elevado grau de estresse. Mais de um quarto, 26%, acham possível adoecer em função do trabalho.



Especialistas consideram que a pandemia, e o consequente aumento do trabalho remoto, aprofundaram o problema do assédio moral nas empresas. À medida que as relações entre as lideranças e seus subordinados passam a se dar de forma privada, sem espectadores, elas ficam mais sujeitas ao abuso.



É comum que as direções das companhias tenham conhecimento da natureza tóxica de algumas de suas lideranças sem que façam nada a respeito, pois em muitos casos esses profissionais geram resultados positivos e cumprem metas.



No entanto, manter dinâmicas e relações degeneradas no ambiente de trabalho tem um preço. Em algum momento, o problema emerge e compromete a imagem da empresa entre colaboradores, fornecedores, consumidores etc.



Outro efeito negativo da presença de líderes tóxicos é a alta rotatividade que isso implica. Bons profissionais não resistem muito tempo e a consequência inevitável acaba sendo a perda de talentos. O treinamento dos líderes é, portanto, fundamental e não deve ser negligenciado em relação a outros investimentos.

Trabalho híbrido é a melhor opção para a saúde mental


12/04/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A discussão em torno da relação entre as diferentes formas de trabalho e a saúde mental explodiu nos últimos anos. Com a pandemia de Covid 19 e o consequente aumento do homeoffice e dos níveis de estresse e ansiedade, profissionais e especialistas passaram a dar muito mais atenção aos efeitos que os modelos de trabalho têm sobre o bem-estar e a produtividade.



Um estudo publicado por pesquisadores das universidades canadenses Simon Fraser e Metropolitana de Toronto trouxe uma nova contribuição a esse debate ao concluir que o trabalho híbrido é mais saudável emocionalmente do que formas totalmente remotas ou presenciais.



Mais de 1570 trabalhadores canadenses participaram da pesquisa e responderam a um questionário sobre o seu bem-estar. Entre aqueles que têm jornadas híbridas, 81% apresentaram indicadores de saúde mental melhores do que aqueles que passam o período integral de trabalho em casa ou no escritório.



Essa não é uma regra universal, pois há outros fatores que contribuem para os níveis de bem-estar. Há também indivíduos que lidam melhor com a totalidade das jornadas remota ou presencialmente.



Mas o resultado do estudo reforça uma impressão disseminada de que a combinação entre dias em casa e dias no escritório é, na média, mais saudável para profissionais que acabam tendo flexibilidade para compromissos pessoais e familiares, típica do homeoffice, sem abrir mão da convivência e da troca, características do trabalho presencial.



É a partir da conexão social com colegas, afinal, que sentimentos de solidão e isolamento no trabalho são mitigados. Sentir-se parte de algo maior é fundamental para o sentido e a realização no trabalho, e presencialmente é muito mais fácil alcançar essa sensação. Por outro lado, a possibilidade de desfrutar de mais tempo para a família e o lazer, e economizar tempo com deslocamentos, tem um efeito conhecidamente positivo.



Como muitas outras coisas na vida, uma mistura equilibrada nos modos de trabalho parece ser a melhor opção para evitar o esgotamento, o estresse e a ansiedade que se tornaram tão presentes no ambiente profissional. Cabe também às empresas, de acordo com as especificidades de suas necessidades, oferecer modelos mais adequados à saúde mental dos colaboradores, cuja produtividade é sempre proporcional ao seu bem-estar.

Trabalho e felicidade: uma relação difícil, mas necessária


24/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Na última segunda-feira, 20 de março, foi comemorado o dia internacional da felicidade. Uma data em que, desde 2013, a Organização das Nações Unidas (ONU) celebra um sentimento central para a vida e o bem-estar humano.



Quando pensamos em felicidade, porém, uma contradição chama a atenção. Uma das ocupações que mais toma o nosso tempo, o trabalho, geralmente não está associada à sensação de felicidade. Pelo contrário, é com tudo aquilo que foge às responsabilidades profissionais que costumamos relacionar momentos de prazer.



Os efeitos negativos disso são diversos. A infelicidade no trabalho provoca, muitas vezes, estresse, ansiedade e depressão. Prejuízos conhecidos para a saúde mental e física e que foram agravados pela pandemia de Covid 19, a expansão do trabalho remoto e a diminuição das relações sociais.



Por outro lado, a felicidade no trabalho está associada a maior bem-estar, mas também ao sucesso profissional. É muito difícil encontrar alguém que seja infeliz no trabalho e que tenha uma carreira bem sucedida. Quem gosta e é feliz com o seu trabalho costuma ser mais produtivo, criativo e motivado.



É claro que nem sempre é fácil ser feliz no trabalho. É impossível ter prazer com todos os compromissos, prazos e responsabilidades. E tampouco controlamos tudo, muitas das atribuições profissionais dependem de colegas e outras pessoas. Mas há muitas coisas que controlamos até o limite em que a única saída para evitar a infelicidade é procurar um novo emprego.



A primeira iniciativa para ser feliz no trabalho é olhar e valorizar os lados positivos da profissão e do cargo que se ocupa. Se pensarmos no emprego apenas como um meio de garantir uma renda, é muito provável que seremos infelizes no dia a dia profissional.



Nesse sentido, é fundamental enxergar o propósito do que se faz. Ao entender as razões e os benefícios coletivos do seu trabalho, você acabará se sentindo parte de algo maior e mais realizado.



Outra medida importante é aceitar e encarar os desafios colocados pelo trabalho. Uma rotina repetitiva e sem novos objetivos desmotiva e acaba sendo monótona. Um envolvimento mais prazeroso com a carreira implica a sensação de acumular novas experiências e habilidades.



Por fim, o bem-estar e a felicidade no trabalho estão diretamente ligados às condições de equilibrar as vidas profissional e pessoal. Sem momentos de descanso e lazer com família e amigos, o estresse e a ansiedade se impõem e tornam impossível uma relação saudável com o trabalho.



Mas não cabe apenas aos próprios profissionais procurar meios de conciliar trabalho e felicidade. As empresas e suas lideranças têm um papel fundamental para garantir esse equilíbrio, que passa, necessariamente, por algum tipo de flexibilidade de regras e exigências. Assim como oferecer perspectivas de crescimento e um ambiente que estimule, mas também apoie e acolha os colaboradores.

Saiba como evitar a procrastinação no trabalho


22/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Todo mundo já se pegou passando horas em redes sociais ou procurando outros afazeres só para não enfrentar os compromissos profissionais. Com o home office, as fontes de distração aumentaram ainda mais e a procrastinação se tornou um problema maior para muitas pessoas.



Adiar tarefas é um dos comportamentos mais comuns e é impossível superar completamente essa tendência. Em diferentes momentos da vida e da carreira, é normal que deixemos para depois aquilo que poderíamos fazer agora.



No entanto, em alguns casos a procrastinação é um problema sério e acaba prejudicando o trabalho e a vida pessoal de muita gente. Além de reduzir a quantidade de coisas que podem ser feitas, o hábito de adiar tarefas gera ansiedade e costuma piorar a qualidade do trabalho.



Afinal, quando se deixa para a última hora a realização de um compromisso profissional, o resultado não é o mesmo comparado a uma empreitada feita com tempo suficiente para o planejamento, a execução e a revisão do trabalho.



Pesquisadores da Universidade de Sorbonne, na França, que estudaram as causas e os efeitos da procrastinação por meio de entrevistas, modelos computacionais e análises neurais recomendam duas formas de enfrentar a procrastinação:



1. Registre lembretes sobre as tarefas



É fundamental lembrar-se a todo momento dos compromissos assumidos e seus prazos. A dica é estabelecer um método para registrar lembretes do que deve ser feito. A probabilidade de adiamentos diminui quando nos deparamos sempre com uma lista de tarefas.



2. Veja-se no futuro



Se o cérebro costuma projetar que as tarefas serão mais simples de serem realizadas no futuro, nos cabe estimulá-lo a operar de outra forma ao imaginar um futuro difícil, sobrecarregado de tarefas e com prazos não cumpridos. É fundamental ter consciência de que protelar o que deve ser feito só causa prejuízos.
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Estudo desfaz estereótipos e mostra que mulheres são tão capazes de liderar quanto homens


07/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



São diversos os preconceitos de gênero presentes no mundo do trabalho e um deles sugere que a liderança seria um atributo masculino. Ou seja, homens teriam, supostamente, uma maior propensão a exercer cargos de liderança com sucesso.



Uma pesquisa do Insper, no entanto, revelou que, de acordo com a percepção dos liderados, as habilidades requeridas para uma boa liderança não são mais encontradas entre homens do que entre mulheres. Ao contrário, não haveria diferença de gênero quando o assunto é dirigir um grupo de subordinados.



Entre outubro de 2021 e julho de 2022, o estudo levou em consideração a opinião de 1.464 profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos. Eles foram consultados sobre as características consideradas essenciais para uma boa liderança: competência, autenticidade, benevolência, humildade e integridade.



As respostas indicaram que homens e mulheres que ocupam posições de direção tiveram a mesma nota em cada uma dessas categorias. Assim como quanto à capacidade que eles têm de promover um ambiente de segurança psicológica, cada vez mais demandado por profissionais de todos os setores.



Tampouco foi identificada qualquer diferença quando o tema é a legitimidade do líder e o apoio que os times lhe oferecem. Ambos os sexos são igualmente avaliados em relação à efetividade e à prototipicalidade (atributo que denota o quanto um chefe é visto como líder ideal).



Os resultados contribuem para superar estereótipos que alimentam preconceitos muito enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho. É ainda quase consensual em alguns meios, infelizmente, a ideia de que líderes homens são mais assertivos e fortes do que líderes mulheres, que seriam mais gentis e humildes, por exemplo. Associações de gênero que comprometem a ascensão de mulheres nas organizações.



Ao ter de corresponder às expectativas ligadas ao gênero, mulheres correm o risco de não estar à altura do que se espera em termos de benevolência e compreensão, de um lado, e de serem julgadas quando têm comportamentos mais associados aos homens e ligados à assertividade.



É verdade, contudo, que esses estereótipos vêm mudando. É cada vez mais aceito que não há apenas um jeito feminino de liderar e cada vez mais comum encontrar lideranças mulheres com práticas e tipos de comportamento muito diferentes entre si.



No ano passado, por volta de 40% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres. Em um universo tão grande e crescente de chefes mulheres, os profissionais vão se acostumando à variedade de maneiras de liderar, independentemente do gênero.



Apesar disso, é fundamental que as empresas se comprometam com iniciativas para quebrar estereótipos de gênero no trabalho. A melhor maneira de combater preconceitos, afinal, é equiparando os cargos de chefia ocupados por homens e mulheres nas companhias.

Trabalho remoto dá sinais de que veio para ficar, mas também enfrenta desafios


15/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Embora o arrefecimento da pandemia tenha diminuído significativamente a prática do teletrabalho, muitos profissionais seguem atuando em casa e não devem voltar tão cedo a frequentar escritórios.



É o que revela um estudo da FGV que comparou dados de outubro de 2021 e outubro de 2022. Nesse período, a porcentagem de empresas que adotam o teletrabalho passou de 58% para 33%, enquanto a proporção de trabalhadores em regime de home office (ou semipresencial) foi de 55% para 34%.



A redução é expressiva, mas o que mais chama a atenção é a permanência de uma parcela importante dos profissionais em modelos de trabalho que, antes da pandemia, eram praticamente inexistentes e só diziam respeito a 7% dos profissionais.



A expectativa geral era de diminuição maior do home office com o fim da crise da Covid, mas isso não aconteceu e a tendência é de que não aconteça daqui em diante. Mesmo que boa parte dos trabalhadores estejam em regime híbrido, ou seja, trabalhando dias alternados em casa e na sede da empresa.



Os motivos para a permanência de muitos profissionais longe dos escritórios são diversas e passam, primeiro, pela produtividade. Por parte das empresas, elas reportam, em média, 23% de aumento na produtividade dos funcionários em home office. Entre os trabalhadores, 41% se considera tanto ou mais produtivo em casa.



Outro fator que incentiva o trabalho remoto diz respeito aos benefícios ligados a ele. A começar pela redução do tempo de locomoção, que tem impacto direto sobre a qualidade de vida.



Mas ainda há desafios. Sobretudo para pequenas e médias empresas, que por vezes encontram limites na incorporação da tecnologia necessária para o trabalho remoto. Por outro lado, há também uma dificuldade no que diz respeito à legislação trabalhista, ainda pouco adaptada a esse modelo de trabalho.



Portanto, se o trabalho remoto veio para ficar, ele encontra algumas barreiras e não se aplica a todas as situações nem a todos os profissionais. De acordo com pesquisa Datafolha de dezembro passado, por exemplo, 45% dos brasileiros ainda defendem uma jornada somente presencial.

Lideranças médias estão mais esgotadas e têm enfrentando maior risco de burnout


01/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os riscos de burnout entre lideranças médias são os mais altos entre os funcionários de escritórios. É o que revelou uma pesquisa do consórcio Future Forum, da empresa americana de software Slack Technologies.



Depois de entrevistar mais de 10 mil profissionais em países como Estados Unidos, França, Japão e Austrália, entre outros, o estudo chegou à conclusão de que 43% dos gestores intermediários se consideram esgotados e com alto risco de burnout.



O índice é maior do que aquele verificado entre executivos (32%) e na liderança sênior (37%). Na média dos funcionários de escritório, a apreensão diante de um possível burnout é de 40%, um aumento de 8% e significativo em relação à última pesquisa, realizada em maio.



Os principais motivos elencados pelos profissionais para o esgotamento dizem respeito à dificuldade de equilibrar as vidas pessoal e profissional e de lidar com altos níveis de estresse e ansiedade. E a causa desse aumento parece estar relacionada, ao menos em parte, ao retorno forçado ao escritório.



Afinal, trabalhadores com flexibilidade de horário se mostraram 26% menos propensos a indicar esgotamento e cinco vezes mais capazes de lidar com o estresse relacionado ao trabalho. Eles ainda relataram uma sensação de produtividade 30% maior do que os profissionais que foram obrigados a voltar a frequentar o escritório e que têm uma jornada com horários mais rígidos.



São conhecidos os muitos efeitos nocivos do esgotamento e do medo de burnout para a relação dos profissionais com o seu trabalho. O estudo da Future Forum revelou que as pessoas que se sentem com burnout relatam níveis de estresse e ansiedade 22 vezes mais altos do que funcionários que não estão esgotados.



A produtividade desses profissionais também é muito prejudicada, com uma piora estimada em 32% e com redução do foco na ordem de 60%. O que acaba implicando em uma relação mais frágil com o propósito do trabalho. Segundo a pesquisa, trabalhadores esgotados se sentem duas vezes mais desconectados dos valores da empresa, de seus gestores, do time do qual fazem parte e da liderança.



Para aumentar o bem-estar e, consequentemente, a produtividade desses profissionais e o seu desejo de permanecer na companhia, é fundamental que as empresas entendam os motivos do esgotamento e adotem estratégias para reduzi-lo. Colaboradores ansiosos, estressados e com risco de burnout são cada vez mais numerosos e esse crescimento precisa ser interrompido o quanto antes para o bem dos negócios e das pessoas.