Quando a flexibilidade no trabalho se transforma em culpa


14/02/2024
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP

A flexibilidade de horário é tida como a grande vantagem do teletrabalho. Com a pandemia e a expansão do home office, profissionais valorizam cada vez mais a possibilidade de gerir com autonomia o seu tempo de trabalho.

O lado positivo da flexibilidade esconde, porém, um lado menos saudável de rotinas de trabalho menos rígidas. A saber, a culpa pelos momentos de ócio e lazer em que não se está trabalhando.

As vantagens do teletrabalho e de horários flexíveis são conhecidas e, não por acaso, muito desejadas por profissionais de diferentes áreas. Elas incluem possibilidades maiores de conciliar afazeres pessoais e familiares com responsabilidades profissionais e a liberdade para formas de lazer e descanso impensáveis em meio a rotinas fixas no escritório.

No entanto, à medida que a fronteira entre trabalho e vida pessoal perde nitidez, em que a todo momento podemos ou não estar trabalhando, o tempo de trabalho se confunde e pode acabar consumindo todo o tempo de descanso.

Algo que sempre foi muito comum para empreendedores, para quem a expressão tempo é dinheiro faz sentido em muitos casos, se tornou a realidade para profissionais em home office que não separam mais o ambiente doméstico do ambiente de trabalho.

Não são raros os casos de trabalhadores autônomos, mas também de funcionários que trabalham até tarde da noite ou aos fins de semana para dar conta das responsabilidades e para melhorar o máximo possível a qualidade de suas entregas.

Mais grave do que a perda de tempo de lazer, descanso e com a famílias e amigos, porém, a sensação de que podemos estar trabalhando a todo momento leva a uma culpa (quando não estamos fazendo) e a um estresse muito prejudicial à saúde e ao próprio trabalho.

É cada vez mais comum ouvir histórias de pessoas com dificuldade para dormir, insônia, episódios de estresse agudo e até de burnout ligados ao trabalho. Sem limites para o tempo e o local de trabalho, a tendência é levar as preocupações profissionais para todos os lugares e a todo tempo.

Profissionais estressados e ansiosos, por outro lado, não têm a mesma produtividade que aqueles descansados e realizados no dia a dia. As próprias empresas acabam sofrendo também com funcionários que não conseguem desligar de suas funções.

E se esses funcionários se cobram de maneira demasiada, resta então às suas empresas impor a necessidade de descanso. Como fazer isso não é tão simples, mas tentativas não deverão faltar daqui pra frente.

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