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Maioria dos jovens brasileiros quer um emprego “verde” nos próximos anos


26/10/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A preocupação com o aquecimento global e a preservação do meio ambiente é cada vez maior. O que não se sabia é que a imensa maioria dos jovens brasileiros gostaria de trabalhar em cargos ligados à economia verde no futuro próximo.



Uma pesquisa da consultoria Accenture feita com quase 30 mil jovens ao redor do mundo revelou que 88% das pessoas de 15 a 39 anos no Brasil desejam ter um emprego comprometido com questões ambientais.



O índice entre os brasileiros é um dos maiores do mundo e supera, com larga vantagem, a proporção europeia (57% em média) e dos Estados Unidos, onde 52% dos jovens ambicionam um emprego verde.



Segundo a pesquisa, entre os jovens que gostariam de trabalhar na área no Brasil, 60% são otimistas e acreditam ser possível encontrar uma vaga em uma empresa inserida na economia verde nos próximos 10 anos. Uma expectativa que parece real considerando as transformações em curso no mercado de trabalho.



Enquanto diversas funções têm desaparecido com o desenvolvimento tecnológico e os avanços da economia digital, uma série de outras profissões têm surgido e despontam com grande potencial de crescimento.



Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) mostrou que, até 2030, 22,5 milhões de postos de trabalho ligados à construção de infraestrutura verde e à criação de soluções tecnológicas limpas deverão surgir só na América Latina. No Brasil, serão cerca de 10 milhões entre cargos de especialização baixa, média e alta.



Nesse sentido, caberá às empresas se adaptarem a um mundo em transformação. Seja em relação às exigências que a crise ambiental coloca em termos de produção e circulação de bens e serviços, seja para atrair os talentos que chegam ao mercado.



À medida que a apreensão com o clima aumenta, os hábitos de consumo mudam e privilegiam atores comprometidos com a sua preservação. Ao mesmo tempo, a atratividade de uma companhia para profissionais qualificados depende cada vez mais dos valores e das práticas que ela promove.

Por motivos diferentes dos EUA, onda de desligamentos chega ao Brasil


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A chamada “grande renúncia” vem dominando o debate sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos nos últimos meses. Em mais um movimento provocado pela pandemia, milhões de trabalhadores americanos têm abandonado seus empregos voluntariamente.



Por aqui, os pedidos de demissão também têm batido recordes históricos, mas por razões diferentes. Nos Estados Unidos, os trabalhadores que estão deixando seus cargos têm ocupações, renda e qualificações diversas. Com as reconsiderações sobre o sentido, a dinâmica e as relações de trabalho trazidas pela Covid, de um lado, e os programas de proteção social criados pelo governo, de outro, muitos americanos estão revendo os rumos de suas carreiras.



No Brasil, os pedidos de demissão são igualmente expressivos. Entre janeiro e maio deste ano, 2,9 milhões de brasileiros pediram as contas – sem considerar as demissões de comum acordo entre empresa e funcionário. É um recorde e um aumento de 35% em relação ao mesmo período do ano passado.



No entanto, os profissionais que têm abandonado voluntariamente o emprego por aqui se concentram em um grupo específico. A maioria deles é composta de jovens e com maior qualificação do que a média dos brasileiros.



Chama a atenção, ainda, que os pedidos de demissão se destacam na área de tecnologia. Um levantamento de Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) mostrou que, em 2022, 65% dos profissionais de informática se desligaram voluntariamente, à frente dos técnicos em informática (57%) como o subgrupo ocupacional com maior proporção de pedidos de demissão.



Entre os profissionais menos qualificados, os índices de demissão voluntária são muito menores. O mesmo estudo revelou que entre profissionais sem o ensino fundamental completo, uma em cada quatro demissões ocorre a pedido do funcionário. Entre os trabalhadores de nível superior, a mesma proporção é de 48%.



Nem poderia ser diferente para um país desigual como o Brasil, em que a demissão pode significar muitas vezes alta vulnerabilidade e até insegurança alimentar, cujos índices cresceram nos últimos anos.



De toda forma, o aumento do número de demissões é um fenômeno relevante. Ele indica, além do aquecimento do mercado de trabalho na área de tecnologia, a maior disposição dos jovens em rever suas trajetórias e abrir mão da estabilidade no trabalho por novos desafios e oportunidades. Uma mudança e tanto.

Setembro Amarelo: a urgência da agenda da saúde mental nas empresas


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O problema crescente da saúde mental no ambiente corporativo ganhou muita visibilidade nos últimos anos, puxada pela crise da Covid-19. Mas temas como depressão, ansiedade e estresse ainda são tabu em boa parte das empresas e deveriam contar com mais medidas de enfrentamento.



O bem-estar emocional tem estado no centro das atenções quando o assunto é mercado de trabalho. E nem poderia ser diferente na esteira da pandemia e das suas consequências. Um dos efeitos de longo prazo já provados da contaminação por Covid-19 é a deterioração da saúde mental.



Mas além dos desdobramentos da doença, trabalhadores têm sofrido com uma série de mudanças nos últimos anos ao redor do mundo. O trabalho remoto, acelerado pela pandemia, prejudica muitas vezes o equilíbrio entre as vidas profissional e pessoal ao romper a divisão entre a casa e o escritório.



Novas relações de trabalho, baseadas menos em contratos e mais na prestação de serviços, diminuem a estabilidade e aprofundam incertezas para profissionais que acumulam empregos e responsabilidades. Por fim, o ritmo mais acelerado da comunicação e do dia a dia, aliado a maior pressão por desempenho, agrava a ansiedade e o estresse em meio a um mercado cada vez mais pautado pela competição.



O resultado conhecido disso tudo é a explosão de síndromes de burnout e até de tentativas de suicídio por um esgotamento ligado ao trabalho. Diante de um cenário como esse, é urgente que lideranças executivas e corporações tomem medidas para cuidar da saúde mental de seus profissionais. Diversas iniciativas têm sido conduzidas, mas elas devem ser expandidas e multiplicadas por empresas de todas as áreas e tamanhos.



Abaixo, listamos algumas das medidas que podem ser tomadas:



1. Promover um bom ambiente corporativo e desestimular relações baseadas no conflito.



2. Acolher dificuldades e reclamações dos profissionais por meio de um canal que os escute e os proteja, como uma ouvidoria.



3. Identificar e prevenir casos de deterioração da saúde mental dos funcionários, que costumam se manifestar a partir da insatisfação e da falta de motivação.



4. Tratar do tema, conscientizar os colaboradores sobre seus riscos e alertar sobre indícios e formas de buscar ajuda.



5. Garantir algum equilíbrio entre trabalho e descanso por meio de férias, dias de folga e intervalos na jornada



6. Promover momentos de integração e confraternização das equipes.



7. Quando possível, oferecer benefícios ligados ao bem-estar físico e mental, seja por meio de incentivos a tratamentos psicológicos, seja por meio de incentivos à prática de esportes, ao lazer e à cultura.

Os desafios das mulheres que ganham mais do que os parceiros


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Poucas mulheres têm um salário melhor do que seus maridos. No Brasil, as mulheres, em geral, ganham 20% a menos do que os homens. E a diferença é parecida para trabalhadores com a mesma escolaridade e o mesmo tipo de ocupação.



Mas conforme a desigualdade de gênero diminui, mesmo que a um ritmo lento, algumas mulheres têm assumido posições de destaque no mercado de trabalho e chegam a ter um salário maior do que os seus parceiros.



No entanto, embora isso deva ser motivo de orgulho para ambos, mulheres nessa posição costumam sofrer por dois motivos.



Por um lado, elas têm de lidar com o sentimento de humilhação e fragilidade dos maridos nessas situações. Em uma sociedade ainda marcada pelo machismo e por uma divisão clara de tarefas entre os gêneros, homens tendem a se sentir mal quando as mulheres ocupam o papel de provedoras.



Isso pode provocar julgamentos de outras pessoas e instabilidade na relação. Em outros casos, pode despertar diversas formas de violência e opressão de homens que não aceitam o sucesso profissional de suas parceiras.



Por outro lado, mulheres que ganham mais e que, portanto, costumam trabalhar mais que os homens, acabam assumindo também a maior parte do trabalho doméstico. O que faz com que a dupla jornada seja ainda mais exaustiva.



Independentemente de prover a maior parte dos recursos financeiros para a casa, as mulheres não se libertam do trabalho tradicionalmente considerado “feminino”, como cuidar dos filhos e da casa.



Pesquisas têm indicado que mesmo com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a divisão das tarefas domésticas não foi significativamente alterada. Inclusive quando elas ganham mais do que eles. No Reino Unido, por exemplo, um estudo mostrou que 45% das mulheres provedoras são responsáveis pela maioria dos afazeres domésticos, contra somente 12% dos homens que ganham mais que suas esposas.



Outras pesquisas, feitas nos Estados Unidos e na Austrália, revelaram que mesmo que a carga doméstica diminua para mulheres que ascendem na carreira, esse movimento bate num teto rapidamente. Depois de uma mudança inicial, as mulheres voltam a assumir a maior parte do trabalho em casa.



Nesses casos, o estresse profissional se soma a uma sobrecarga de tarefas domésticas e ao desconforto causado por um desequilíbrio mal suportado pelos parceiros. Não por acaso, dados têm indicado que casamentos em que a mulher é a principal provedora têm maiores chances de culminar em um divórcio.



No entanto, esse nem sempre precisa ser o resultado da inclusão das mulheres no mercado e difusão de oportunidades iguais entre os gêneros. As mudanças no trabalho parecem que ocorrem em um ritmo mais acelerado do que aquelas nos costumes e nas tradições.



Mas elas também têm avançado e cada vez é mais comum encontrar pais que levam os filhos para a escola, cozinham e cuidam da casa. Já é tempo, afinal, das transformações no mercado de trabalho chegarem também ao ambiente familiar.

Cidades podem ser melhores ou piores para trabalhar


17/08/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional nunca recebeu tanta atenção como nos últimos anos.



A preocupação com o bem-estar já vinha crescendo, mas ganhou outra proporção com a pandemia de Covid-19, as transformações no trabalho e os efeitos sobre a saúde mental.



A pesquisa Equilíbrio entre Trabalho e Vida Pessoal, da empresa de tecnologia Kisi, no entanto, mostrou que não depende apenas do profissional, ou da tarefa que se realiza, a qualidade da relação que estabelecemos com o trabalho.



A cidade em que se vive, por uma série de fatores, contribui ou prejudica o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. E o estudo classificou as melhores e as piores delas.



Entre as 100 cidades analisadas, São Paulo – a única brasileira na lista – ocupa a 97ª posição. A primeira colocada é Oslo, capital da Noruega, seguida de Berna, capital suíça e Helsinque, capital da Finlândia. Atrás de São Paulo, estão apenas a Cidade do Cabo, na África do Sul, Dubai, nos Emirados Árabes, e Kuala Lumpur, capital da Malásia.



Os critérios para a classificação dos municípios foram divididos em três categorias. A primeira delas buscou medir a intensidade do trabalho por meio de dados como dias de férias, população sobrecarregada, proporção de pessoas com mais de um emprego e dias de licença parental.



Outra categoria levou em consideração a qualidade das instituições e das relações sociais através de indicadores sobre o atendimento de saúde, o acesso a tratamentos de saúde mental, o impacto da Covid-19, inclusão e tolerância às diferenças.



A terceira categoria diz respeito à convivência na cidade, ou seja, opções de cultura e lazer, acessibilidade, segurança, oferta de espaços ao ar livre, transporte e bem-estar. No total, mais de 130 indicadores foram analisados para se chegar ao resultado.



É claro que o equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional dependem do tipo de trabalho e das condições de vida de cada um. Mas ao pensar em realização e bem-estar, não podemos ignorar o lugar onde vivemos. Para além de iniciativas individuais, que podem favorecer ou prejudicar a saúde mental e a relação com o trabalho, políticas públicas ligadas à cidade são imprescindíveis para melhorar esse equilíbrio.

Setor de tecnologia vai ganhar novo estímulo com o 5G


03/08/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Se há uma área que passou incólume à instabilidade do mercado de trabalho nos últimos anos foi a área da tecnologia.



A pandemia atingiu diversos setores da economia e segue provocando impactos negativos, reforçados ainda pela guerra na Ucrânia. Por outro lado, os efeitos do isolamento social aceleraram o desenvolvimento da área de tecnologia, que já despontava como o setor mais promissor do mercado de trabalho para o futuro.



Agora vamos nos deparar com um novo impulso para esse setor; a chegada da quinta geração de internet móvel, o 5G. No Brasil, isso começou a ganhar forma com o leilão de novembro do ano passado e avança com o início do funcionamento das redes neste mês de julho.



O 5G, além de oferecer uma velocidade dez vezes maior que o 4G, tem uma latência (medida do tempo entre o envio e o recebimento de dados por um dispositivo móvel) consideravelmente menor. Desse modo, a resposta de celulares, carros autônomos e outros equipamentos aos comandos será praticamente espontânea, permitindo uma funcionalidade de que não dispomos hoje.



O resultado da difusão da quinta geração de telefonia é a explosão da demanda por profissionais de áreas como big data, inteligência artificial, internet das coisas, segurança da informação e dados. Bem como o surgimento de novas carreiras para desempenhar tarefas que ainda não existem.



Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2035 o 5G pode criar até 22 milhões de empregos especializados ao redor do mundo. São inúmeras possibilidades que vão se abrir e os profissionais mais habilitados para imaginá-las e desenvolvê-las sairão na frente.



Vários profissionais já estão habilitados a aproveitar a oportunidade que se aproxima. Mas mesmo eles terão de buscar novas capacitações diante do desaparecimento de funções demandadas hoje e o aparecimento de outras, menos mecânicas.



Nesse sentido, a atual carência de mão de obra especializada e qualificada na área de tecnologia, verificada a cada abertura de processo seletivo, tende a se agravar. O que abre oportunidades para uma nova geração de profissionais e também para aqueles que estiverem dispostos a reorientar suas carreiras.



Para esses casos, porém, é importante ter em conta a realidade desse setor e as exigências que se impõem a todos que nele trabalham. Especialmente, a capacidade de se adaptar às mudanças aceleradas que, como o 5G, demandam do profissional uma atualização constante às transformações dos produtos ofertados, dos serviços prestados e da dinâmica do mercado de trabalho.

Os prós e contras do trabalho remoto para a ascensão na carreira


20/07/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Com a pandemia, veio o trabalho à distância. E com ele, vantagens e desvantagens para profissionais que passaram a trabalhar somente, ou em boa parte, de suas casas.



Dentre os pontos positivos, o mais valorizado é a flexibilidade. Com a redução dos deslocamentos e a possibilidade de organizar de maneira mais autônoma a rotina de trabalho, funcionários têm mais tempo livre com a família ou para atividades de lazer. Algo que beneficia especialmente as mulheres.



Estudos têm mostrado como a falta de flexibilidade de cargos de alto escalão prejudicava a ascensão profissional das mulheres com filhos. Com os avanços do trabalho remoto, se tornou viável conciliar as maiores responsabilidades perante as crianças e posições de maior destaque nas empresas.



No entanto, o adeus ao escritório trouxe também alguns desafios para a carreira. O mais conhecido, de ordem emocional, diz respeito ao difícil equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional quando não há uma separação física e temporal entre elas. Relatos e pesquisas têm revelado os impactos nocivos do home office sobre a saúde mental de pessoas sujeitas a uma jornada mais longa que desfez as fronteiras entre os momentos de trabalho e descanso.



Outro desafio, que até agora recebeu menos atenção, está ligado aos efeitos do trabalho remoto sobre a visibilidade do profissional e, consequentemente, sobre as suas possibilidades de crescimento. É comum, afinal, que o funcionário que fica em casa seja menos notado do que aquele que está no escritório. Menos visto e lembrado, ele se encontra em desvantagem em processos de promoção.



Em empresas que adotam o home office de maneira integral, o efeito é igual para todos. Para as companhias em que ele é opcional e a regra é o modelo híbrido, isso pode fazer diferença. Com menos tempo com colegas e lideranças, menor a chance de estabelecer vínculos de confiança e admiração.



Mas nem tudo está perdido. Há algumas medidas que o profissional que trabalha em casa pode tomar para não ser esquecido e tecer relações pessoais imprescindíveis para a ascensão na carreira.



Por exemplo, manter uma relação contínua com seu gestor, sem que esse contato seja ostensivo e cansativo. Ter encontros esporádicos com ele e colegas fora do ambiente de trabalho também é importante. Afinal, momentos informais de descontração, sejam presenciais ou à distância, são cruciais para a construção de laços pessoais e profissionais.



Como praticamente tudo na vida, o home office trouxe consigo vantagens e desvantagens para o mundo do trabalho. Cabe aos profissionais explorar o que ele traz de bom e mitigar os seus efeitos negativos. O momento é de aprendizado para as empresas e também para os colaboradores.

Ser apaixonado pelo trabalho nem sempre é bom

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O sonho de praticamente qualquer pessoa é encontrar um trabalho pelo qual seja apaixonado.



É comum, já há alguns anos, ouvir frases como “o melhor trabalho é aquele que te faz feliz” ou “a chance de sucesso é muito maior quando você tem prazer no que faz”.



No entanto, um alerta é importante. Psicólogos diferenciam dois tipos diferentes de paixão pelo trabalho, sendo que um deles é positivo e o outro nem tanto.



O primeiro tipo de paixão identificado pelos psicólogos pode ser chamada de “harmoniosa”. Ele diz respeito a pessoas que, ao mesmo tempo que gostam do trabalho, valorizam outros âmbitos da vida. Trata-se de profissionais que encontram prazer nas tarefas do dia a dia, mas que têm controle sobre elas e desfrutam também de outras coisas.



O outro tipo de paixão pelo trabalho – e aqui mora o perigo – é aquela chamada de “obsessiva”. Todo mundo, afinal, conhece alguém que dedica à profissão, às conquistas, às promoções e aos aumentos salariais a maior parte de sua energia e de suas expectativas.



Segundo os psicólogos, essas pessoas têm dificuldade de se desligarem do trabalho e, mesmo assim, raramente se dão por satisfeitas com os resultados que alcançam.



A consequência mais grave desse tipo de relação em que o profissional não controla sua relação com o trabalho é um estresse e uma exaustão que podem levar ao burnout.



Nem sempre, porém, isso é culpa da pessoa. Uma pesquisa coordenada por Taha Yasseri, professor de sociologia da University College Dublin, na Irlanda, mostrou que determinados tipos de trabalho podem ser mais propensos a desenvolver paixões obsessivas.



Por meio de testes feitos com mais de 800 participantes, os estudiosos chegaram à conclusão de que diferentes traços de personalidade interagem de forma distinta com variadas áreas de atuação.



Pessoas ansiosas e que lidam com mudanças de humor, por exemplo, são mais propensas a desenvolver a paixão obsessiva pelo trabalho quando estão empreendendo. O que se explica, para os pesquisadores, pelo fato de essas carreiras dependerem do poder de persuasão do profissional e de estarem atreladas a relações de poder e status.



Algumas profissões, por outro lado, são menos afeitas ao desenvolvimento da paixão obsessiva, pois estimulam menos a ansiedade ligada à reputação. É o caso de dentistas, enfermeiros, cirurgiões ou assistentes sociais.



Caso você seja apaixonado pelo trabalho, é fundamental, então, entender o tipo de sentimento que tem por ele. Você controla o trabalho ou ele te controla? Você tem consegue tirar prazer das conquistas ou não?



Se as respostas indicarem que a paixão que você sente é do tipo obsessiva, convém pensar o que poderia mudar.



Caso você não se sinta apaixonado pelo seu trabalho, talvez valha a pena refletir sobre o tipo de sentimento você está buscando. Não é, necessariamente, porque um amigo ou conhecido só faz trabalhar e vive para isso que ele tem uma relação mais saudável com o trabalho do que você.

Semana de 4 dias de trabalho: realidade ou ilusão?

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A Covid-19 trouxe junto com ela várias mudanças ao mundo do trabalho. Algumas foram inevitáveis e ocorreram sem muito planejamento, como a disseminação do home office. Já outras são resultado dos impactos da pandemia e prometem transformar, para além da forma e do local de trabalho, a própria jornada semanal de cinco dias.



Como desdobramento do debate sobre a saúde mental, diversas empresas têm anunciado a redução da carga horária de seus colaboradores, em muitos casos implementando uma jornada de quatro dias de trabalho. Enquanto isso, alguns países têm promovido testes no setor público e patrocinado experiências no setor privado nessa mesma direção.



Os funcionários tendem a aprovar essas iniciativas e relatam um melhor equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional, menos estresse e menor chance de esgotamento. A maioria deles alega ainda observar uma maior produtividade a partir da implementação de jornadas mais curtas.



E as experiências recentes têm mostrado justamente isso. Na Islândia, entre 2015 e 2019, 1 em cada 100 profissionais do país passaram a trabalhar quatro dias na semana e pesquisas indicaram que sua produtividade permaneceu a mesma ou melhorou nesse período.



Outros testes coordenados pelo Estado têm sido feitos em países como a Espanha. E determinadas empresas têm experimentado jornadas mais curtas de maneira voluntária ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Os resultados quanto à produtividade até agora são animadores, com funcionários que perdem menos tempo com reuniões longas e ineficazes e declaram enxergar mais motivação no trabalho.



Além de reduzir a fadiga e melhorar a saúde mental dos profissionais, uma jornada mais curta ainda contribui para o meio ambiente. Diversos estudos têm mostrado como ela significa menos emissão de carbono, menos impressão de papel e menor consumo de energia.



Mas esse não é ainda um caminho sem volta. Nos últimos anos, algumas empresas chegaram a reduzir a jornada de seus funcionários e, pressionadas pela alta competitividade em seus respectivos setores, restabeleceram a semana de cinco dias.



A criação do fim de semana como um período de folga dos trabalhadores tampouco ocorreu de um dia para o outro e sem idas e vindas. O fato de algumas experiências de jornadas mais curtas estarem em curso e de gestores e empresas considerarem cada vez mais a sua adoção é um sinal relevante de transformação na semana de trabalho como estamos acostumados. Esse pode ser, afinal, mais um efeito antecipado pela crise sanitária e capaz de revolucionar o mundo do trabalho.

Como saber a hora de mudar de emprego?

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Não é tão raro que uma vaga com a qual sonhamos durante muito tempo não corresponda exatamente ao que imaginávamos. Mas às vezes a espera foi tão grande para alcançar aquele objetivo que é difícil aceitar que não deu certo e partir para a busca de novas experiências. Como fazer, então, para decidir o momento exato de deixar o emprego?



Frustrações são comuns e podem ser provocadas por uma série de motivos, como relações pessoais ruins com chefes e colegas e alguma incompatibilidade com a cultura da empresa, com as formas de comunicação e a organização do trabalho.



A situação mais grave é quando percebemos uma falta de interesse e aptidão para a área de atuação e o tipo de tarefas que ela exige. Nesses casos, quando a ausência de motivação é clara, não há muita alternativa a não ser procurar outros centros de interesse e novas experiências profissionais.



Nos outros casos, em que a frustração é provocada pelos motivos elencados acima, há várias considerações a se fazer. A primeira delas é saber se o problema é individual ou coletivo. Afinal, a dificuldade pode ser sua ou pode haver algo de errado com a própria empresa.



Se a maioria dos colegas está insatisfeita, provavelmente há algo a ser feito em termos gerais. Resta entender exatamente o quê e se há alguma margem para uma transformação ampla do ambiente de trabalho.



Já se as outras pessoas estão felizes e motivadas, o problema é com você – e tudo bem. Nesse caso, cumpre saber se vale a pena insistir para se adaptar ou se há uma incompatibilidade que não pode ser superada.



A melhor maneira de identificar até onde deve ir o esforço nesse sentido é prestando atenção nos sentimentos que o trabalho desperta. Quando você acorda, ou no momento que antecede o começo do expediente, como você se sente? Se sensações de aflição, nervosismo e cansaço se repetem de forma regular, provavelmente não há muito o que fazer a não ser procurar outro emprego.



Abandonar um posto de trabalho, porém, não é tão simples. Ainda mais em um momento conturbado do ponto de vista econômico e do mercado de trabalho como o atual. O ideal é sair apenas com outra oportunidade em vista. E mesmo nessa situação, é fundamental levar em conta todas as dimensões da nova vaga para não tomar uma decisão precipitada. As condições são boas? Você se sente suficientemente motivado ou é apenas uma forma de mudar de ares?



Deixar um emprego, então, não é fácil e envolve uma série de riscos. Mas há momentos em que ter coragem para tomar essa decisão é imprescindível. Pois a insatisfação e o desgaste no trabalho têm efeitos muito sérios.



No âmbito pessoal, a saúde mental e as relações sociais acabam prejudicadas. Do ponto de vista profissional, um emprego que não nos estimule abala nossa autoestima, nossa motivação e até a vontade de seguir trabalhando. E sim, é possível ser feliz no trabalho e devemos sempre perseguir esse objetivo. Tendo em mente, por outro lado, que esse ideal não pode ser tão distante da realidade para não gerar constantes frustrações.