Ser apaixonado pelo trabalho nem sempre é bom

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP

O sonho de praticamente qualquer pessoa é encontrar um trabalho pelo qual seja apaixonado.

É comum, já há alguns anos, ouvir frases como “o melhor trabalho é aquele que te faz feliz” ou “a chance de sucesso é muito maior quando você tem prazer no que faz”.

No entanto, um alerta é importante. Psicólogos diferenciam dois tipos diferentes de paixão pelo trabalho, sendo que um deles é positivo e o outro nem tanto.

O primeiro tipo de paixão identificado pelos psicólogos pode ser chamada de “harmoniosa”. Ele diz respeito a pessoas que, ao mesmo tempo que gostam do trabalho, valorizam outros âmbitos da vida. Trata-se de profissionais que encontram prazer nas tarefas do dia a dia, mas que têm controle sobre elas e desfrutam também de outras coisas.

O outro tipo de paixão pelo trabalho – e aqui mora o perigo – é aquela chamada de “obsessiva”. Todo mundo, afinal, conhece alguém que dedica à profissão, às conquistas, às promoções e aos aumentos salariais a maior parte de sua energia e de suas expectativas.

Segundo os psicólogos, essas pessoas têm dificuldade de se desligarem do trabalho e, mesmo assim, raramente se dão por satisfeitas com os resultados que alcançam.

A consequência mais grave desse tipo de relação em que o profissional não controla sua relação com o trabalho é um estresse e uma exaustão que podem levar ao burnout.

Nem sempre, porém, isso é culpa da pessoa. Uma pesquisa coordenada por Taha Yasseri, professor de sociologia da University College Dublin, na Irlanda, mostrou que determinados tipos de trabalho podem ser mais propensos a desenvolver paixões obsessivas.

Por meio de testes feitos com mais de 800 participantes, os estudiosos chegaram à conclusão de que diferentes traços de personalidade interagem de forma distinta com variadas áreas de atuação.

Pessoas ansiosas e que lidam com mudanças de humor, por exemplo, são mais propensas a desenvolver a paixão obsessiva pelo trabalho quando estão empreendendo. O que se explica, para os pesquisadores, pelo fato de essas carreiras dependerem do poder de persuasão do profissional e de estarem atreladas a relações de poder e status.

Algumas profissões, por outro lado, são menos afeitas ao desenvolvimento da paixão obsessiva, pois estimulam menos a ansiedade ligada à reputação. É o caso de dentistas, enfermeiros, cirurgiões ou assistentes sociais.

Caso você seja apaixonado pelo trabalho, é fundamental, então, entender o tipo de sentimento que tem por ele. Você controla o trabalho ou ele te controla? Você tem consegue tirar prazer das conquistas ou não?

Se as respostas indicarem que a paixão que você sente é do tipo obsessiva, convém pensar o que poderia mudar.

Caso você não se sinta apaixonado pelo seu trabalho, talvez valha a pena refletir sobre o tipo de sentimento você está buscando. Não é, necessariamente, porque um amigo ou conhecido só faz trabalhar e vive para isso que ele tem uma relação mais saudável com o trabalho do que você.

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