Desigualdade racial no mercado de trabalho cresce com a pandemia e bate recorde

A crise de 2015 já havia intensificado a desigualdade racial no mundo profissional. No entanto, a pandemia de covid19 agravou o quadro e fez com que a diferença na taxa de desemprego entre negros e pardos, de um lado, e brancos, do outro, alcançasse um patamar inédito desde o início da série histórica, em 2012.

Afinal, o fechamento de milhões de vagas formais e a impossibilidade de exercer atividades informais atingiram com mais força os negros e pardos, dos quais 15,8% estavam desempregados em junho. Entre os brancos, o índice era de 10,4%, segundo os dados da Pnad contínua, realizada pelo IBGE.

A expressiva discrepância entre esses grupos decorre de outra dimensão da desigualdade racial no mercado de trabalho. Pois na medida em que a população negra e parda ocupa os cargos de menor qualificação, ela é a primeira a ser atingida em meio a uma crise econômica, em que empresas tendem a preservar os trabalhadores mais qualificados.

Por outro lado, essa mesma população é majoritária entre os trabalhadores do mercado informal e foi mais atingida pelas restrições impostas à circulação. De abril a junho, diminuiu em 24,9% o número de pessoas trabalhando sem carteira assinada. No mesmo período, as vagas de trabalhadoras domésticas, caíram 24,6%, deixando um número expressivo de mulheres negras sem qualquer fonte de renda. Com efeito, a taxa de desemprego entre mulheres negras, pardas e indígenas era de 18,2% em junho, contra 11,3% entre mulheres brancas.

O que mais chama a atenção é que a expansão da desigualdade no mercado de trabalho ocorre apesar da redução da desigualdade em termos de escolaridade. Pois entre 2014 e 2019, o número de anos de estudo dos negros aumentou, em média, 12,1%, enquanto entre os brancos o avanço foi de 7,5%. Mas a despeito da redução da desigualdade de qualificação, a renda dos negros recuou 4,9% e a dos brancos aumentou 1,8%, em média, no mesmo período.

O descompasso entre escolaridade e renda, em relação à raça, portanto, pode ser explicado pelo persistente preconceito contra os negros na sociedade brasileira. Embora diversos atores e grupos estejam se levantando contra o racismo, a discriminação continua estruturando relações pessoais e profissionais, em detrimento da ascensão social de homens e, sobretudo, mulheres negras.

É fundamental, assim, que as empresas debatam o assunto e revejam a prática recorrente de contratar e promover pessoas semelhantes àquelas que ocupam posições de liderança. Enquanto não houver estímulos e políticas explícitas de acesso a oportunidades, o quadro de desigualdade tende a perdurar.

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