O crescimento do trabalho fora do expediente e seus impactos sobre a saúde mental

Por Philipe Scerb- Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP

Com as pessoas em casa e com acesso à internet na maior parte do tempo, os limites entre vida pessoal e trabalho, que já vinham se tornando mais fluidos, praticamente desapareceram. A qualquer momento, funcionários podem consultar mensagens profissionais e receber pedidos, o que prejudica o descanso e a própria ideia de momentos de lazer.

Um estudo da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, mostrou que, ao tornarem o trabalho onipresente, o celular e novas tecnologias promovem uma sobrecarga psicológica que prejudica a saúde mental. Por outro lado, quem consegue separar melhor as vidas pessoal e profissional lida melhor com o estresse ligado ao trabalho e sofre menos com seus efeitos físicos.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores estudaram, durante cinco semanas, a rotina de 546 professores para analisar os efeitos da comunicação profissional fora do expediente. O objetivo era avaliar se a restrição desse contato teria algum impacto sobre seu bem-estar.

A pesquisa revelou que aqueles que mantiveram o celular desligado ou as notificações de e-mail desativadas, foram menos interpelados por diretores das escolas, chefes e pais de alunos fora do horário de trabalho. Ao serem menos reativos ao contato, eles deixaram claro que não estavam disponíveis naqueles momentos. O resultado percebido foi uma menor carga de estresse sobre esses professores.

É evidente que não podemos ignorar a importância das novas tecnologias para um mundo do trabalho cada vez mais dinâmico. Mas é fundamental, por outro lado, colocar freios no pensamento de que os funcionários estão sempre disponíveis. Uma prática que compromete profundamente sua saúde mental e, consequentemente, sua produtividade.

Nesse sentido, os pesquisadores de Illinois mostraram também a necessidade de gestores que respeitem a distinção entre as vidas profissional e pessoal de seus colaboradores. Uma saída sugerida por eles, e que faz sentido, é o estabelecimento de regras para a comunicação entre chefes e funcionários fora do expediente.

Algo que já era importante antes da pandemia, mas que ganhou outras proporções com as novas dinâmicas profissionais. No início do ano, um estudo da consultoria Randstad revelou que 59% dos brasileiros acreditavam que seus empregadores esperavam que eles estivessem disponíveis para além do horário de trabalho. Hoje, com a fronteira entre trabalho e lazer ainda mais borrada, é fundamental que empregadores e funcionários fiquem atentos a um equilíbrio cada vez mais difícil.

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