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Os prós e contras do trabalho remoto para a ascensão na carreira


20/07/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Com a pandemia, veio o trabalho à distância. E com ele, vantagens e desvantagens para profissionais que passaram a trabalhar somente, ou em boa parte, de suas casas.



Dentre os pontos positivos, o mais valorizado é a flexibilidade. Com a redução dos deslocamentos e a possibilidade de organizar de maneira mais autônoma a rotina de trabalho, funcionários têm mais tempo livre com a família ou para atividades de lazer. Algo que beneficia especialmente as mulheres.



Estudos têm mostrado como a falta de flexibilidade de cargos de alto escalão prejudicava a ascensão profissional das mulheres com filhos. Com os avanços do trabalho remoto, se tornou viável conciliar as maiores responsabilidades perante as crianças e posições de maior destaque nas empresas.



No entanto, o adeus ao escritório trouxe também alguns desafios para a carreira. O mais conhecido, de ordem emocional, diz respeito ao difícil equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional quando não há uma separação física e temporal entre elas. Relatos e pesquisas têm revelado os impactos nocivos do home office sobre a saúde mental de pessoas sujeitas a uma jornada mais longa que desfez as fronteiras entre os momentos de trabalho e descanso.



Outro desafio, que até agora recebeu menos atenção, está ligado aos efeitos do trabalho remoto sobre a visibilidade do profissional e, consequentemente, sobre as suas possibilidades de crescimento. É comum, afinal, que o funcionário que fica em casa seja menos notado do que aquele que está no escritório. Menos visto e lembrado, ele se encontra em desvantagem em processos de promoção.



Em empresas que adotam o home office de maneira integral, o efeito é igual para todos. Para as companhias em que ele é opcional e a regra é o modelo híbrido, isso pode fazer diferença. Com menos tempo com colegas e lideranças, menor a chance de estabelecer vínculos de confiança e admiração.



Mas nem tudo está perdido. Há algumas medidas que o profissional que trabalha em casa pode tomar para não ser esquecido e tecer relações pessoais imprescindíveis para a ascensão na carreira.



Por exemplo, manter uma relação contínua com seu gestor, sem que esse contato seja ostensivo e cansativo. Ter encontros esporádicos com ele e colegas fora do ambiente de trabalho também é importante. Afinal, momentos informais de descontração, sejam presenciais ou à distância, são cruciais para a construção de laços pessoais e profissionais.



Como praticamente tudo na vida, o home office trouxe consigo vantagens e desvantagens para o mundo do trabalho. Cabe aos profissionais explorar o que ele traz de bom e mitigar os seus efeitos negativos. O momento é de aprendizado para as empresas e também para os colaboradores.

Ser apaixonado pelo trabalho nem sempre é bom

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O sonho de praticamente qualquer pessoa é encontrar um trabalho pelo qual seja apaixonado.



É comum, já há alguns anos, ouvir frases como “o melhor trabalho é aquele que te faz feliz” ou “a chance de sucesso é muito maior quando você tem prazer no que faz”.



No entanto, um alerta é importante. Psicólogos diferenciam dois tipos diferentes de paixão pelo trabalho, sendo que um deles é positivo e o outro nem tanto.



O primeiro tipo de paixão identificado pelos psicólogos pode ser chamada de “harmoniosa”. Ele diz respeito a pessoas que, ao mesmo tempo que gostam do trabalho, valorizam outros âmbitos da vida. Trata-se de profissionais que encontram prazer nas tarefas do dia a dia, mas que têm controle sobre elas e desfrutam também de outras coisas.



O outro tipo de paixão pelo trabalho – e aqui mora o perigo – é aquela chamada de “obsessiva”. Todo mundo, afinal, conhece alguém que dedica à profissão, às conquistas, às promoções e aos aumentos salariais a maior parte de sua energia e de suas expectativas.



Segundo os psicólogos, essas pessoas têm dificuldade de se desligarem do trabalho e, mesmo assim, raramente se dão por satisfeitas com os resultados que alcançam.



A consequência mais grave desse tipo de relação em que o profissional não controla sua relação com o trabalho é um estresse e uma exaustão que podem levar ao burnout.



Nem sempre, porém, isso é culpa da pessoa. Uma pesquisa coordenada por Taha Yasseri, professor de sociologia da University College Dublin, na Irlanda, mostrou que determinados tipos de trabalho podem ser mais propensos a desenvolver paixões obsessivas.



Por meio de testes feitos com mais de 800 participantes, os estudiosos chegaram à conclusão de que diferentes traços de personalidade interagem de forma distinta com variadas áreas de atuação.



Pessoas ansiosas e que lidam com mudanças de humor, por exemplo, são mais propensas a desenvolver a paixão obsessiva pelo trabalho quando estão empreendendo. O que se explica, para os pesquisadores, pelo fato de essas carreiras dependerem do poder de persuasão do profissional e de estarem atreladas a relações de poder e status.



Algumas profissões, por outro lado, são menos afeitas ao desenvolvimento da paixão obsessiva, pois estimulam menos a ansiedade ligada à reputação. É o caso de dentistas, enfermeiros, cirurgiões ou assistentes sociais.



Caso você seja apaixonado pelo trabalho, é fundamental, então, entender o tipo de sentimento que tem por ele. Você controla o trabalho ou ele te controla? Você tem consegue tirar prazer das conquistas ou não?



Se as respostas indicarem que a paixão que você sente é do tipo obsessiva, convém pensar o que poderia mudar.



Caso você não se sinta apaixonado pelo seu trabalho, talvez valha a pena refletir sobre o tipo de sentimento você está buscando. Não é, necessariamente, porque um amigo ou conhecido só faz trabalhar e vive para isso que ele tem uma relação mais saudável com o trabalho do que você.