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Lideranças médias estão mais esgotadas e têm enfrentando maior risco de burnout


01/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Os riscos de burnout entre lideranças médias são os mais altos entre os funcionários de escritórios. É o que revelou uma pesquisa do consórcio Future Forum, da empresa americana de software Slack Technologies.



Depois de entrevistar mais de 10 mil profissionais em países como Estados Unidos, França, Japão e Austrália, entre outros, o estudo chegou à conclusão de que 43% dos gestores intermediários se consideram esgotados e com alto risco de burnout.



O índice é maior do que aquele verificado entre executivos (32%) e na liderança sênior (37%). Na média dos funcionários de escritório, a apreensão diante de um possível burnout é de 40%, um aumento de 8% e significativo em relação à última pesquisa, realizada em maio.



Os principais motivos elencados pelos profissionais para o esgotamento dizem respeito à dificuldade de equilibrar as vidas pessoal e profissional e de lidar com altos níveis de estresse e ansiedade. E a causa desse aumento parece estar relacionada, ao menos em parte, ao retorno forçado ao escritório.



Afinal, trabalhadores com flexibilidade de horário se mostraram 26% menos propensos a indicar esgotamento e cinco vezes mais capazes de lidar com o estresse relacionado ao trabalho. Eles ainda relataram uma sensação de produtividade 30% maior do que os profissionais que foram obrigados a voltar a frequentar o escritório e que têm uma jornada com horários mais rígidos.



São conhecidos os muitos efeitos nocivos do esgotamento e do medo de burnout para a relação dos profissionais com o seu trabalho. O estudo da Future Forum revelou que as pessoas que se sentem com burnout relatam níveis de estresse e ansiedade 22 vezes mais altos do que funcionários que não estão esgotados.



A produtividade desses profissionais também é muito prejudicada, com uma piora estimada em 32% e com redução do foco na ordem de 60%. O que acaba implicando em uma relação mais frágil com o propósito do trabalho. Segundo a pesquisa, trabalhadores esgotados se sentem duas vezes mais desconectados dos valores da empresa, de seus gestores, do time do qual fazem parte e da liderança.



Para aumentar o bem-estar e, consequentemente, a produtividade desses profissionais e o seu desejo de permanecer na companhia, é fundamental que as empresas entendam os motivos do esgotamento e adotem estratégias para reduzi-lo. Colaboradores ansiosos, estressados e com risco de burnout são cada vez mais numerosos e esse crescimento precisa ser interrompido o quanto antes para o bem dos negócios e das pessoas.

Janeiro Branco: uma boa oportunidade para pensar e promover a saúde mental


18/01/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Janeiro costuma ser um momento para pensar na vida, refletir sobre o que estamos fazendo, sobre o que queremos do ano que começa e sobre aquilo que precisamos fazer com esse propósito. Convém, portanto, que o mês associado à saúde mental seja justamente o primeiro do ano, por meio da campanha Janeiro Branco.



Neste ano, o tema da campanha é: a vida pede equilíbrio. Algo nada trivial em um mundo permeado de mudanças e novidades. Com o avanço das tecnologias, as comunicações e as relações pessoais e profissionais evoluem a um ritmo cada vez mais acelerado. Ao preço, muitas vezes, da tão necessária estabilidade psicológica.



Com transformações constantes, é difícil manter comportamentos, rotinas, sentimentos e expectativas estáveis. É como se a todo momento tivéssemos de nos adaptar a novidades e readequar nossos modos de vida.



O resultado disso consiste numa dificuldade crescente de alcançar diversos tipos de equilíbrio emocional, dentre eles a desejável harmonia entre as vidas profissional e pessoal. Pois embora a Covid esteja sendo assimilada pela sociedade, os efeitos da pandemia são duradouros e seguem influenciando as formas de trabalho.



O Relatório Mundial de Saúde Mental, da Organização Mundial da Saúde, de junho de 2022, revelou que um bilhão de pessoas sofrem algum transtorno mental. Estimativas da ONU sugerem que 12 bilhões de dia de trabalho são perdidos todos os anos devido à depressão e à ansiedade, com um custo econômico de quase um trilhão de dólares.



É sabido, afinal, que além de deteriorar a saúde física e mental das pessoas, o estresse ligado ao trabalho prejudica consideravelmente a produtividade dos profissionais.



Mas o que se pode fazer?



O primeiro passo é compreender que o bem-estar emocional é tão importante quanto a saúde física. Nesse sentido, avanços importantes têm ocorrido na contramão de uma cultura que ainda cerca de preconceitos e estigmas o tema da saúde mental.



Em seguida, é importante tomar alguns cuidados e algumas atitudes relacionadas ao comportamento cotidiano. Especialistas são unânimes ao recomendar a reserva de um tempo de descanso e lazer, momentos com as pessoas de quem se gosta, a prática de atividades físicas e uma dieta saudável.



Em relação ao trabalho, o desafio é preservar ao máximo um bom equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e a vida pessoal. Saber separar as coisas é imprescindível e aqui estamos falando das horas passadas no escritório ou em home office, mas também do uso indiscriminado de ferramentas de comunicação virtual ligadas às tarefas profissionais.



As empresas, por sua vez, também têm sua responsabilidade. Sabendo dos custos em produtividade de trabalhadores mentalmente adoecidos, cabe a elas investir em iniciativas que promovam o bem-estar emocional e dosar a carga de estresse e ansiedade que recai sobre os ombros dos seus colaboradores.

Setembro Amarelo: a urgência da agenda da saúde mental nas empresas


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O problema crescente da saúde mental no ambiente corporativo ganhou muita visibilidade nos últimos anos, puxada pela crise da Covid-19. Mas temas como depressão, ansiedade e estresse ainda são tabu em boa parte das empresas e deveriam contar com mais medidas de enfrentamento.



O bem-estar emocional tem estado no centro das atenções quando o assunto é mercado de trabalho. E nem poderia ser diferente na esteira da pandemia e das suas consequências. Um dos efeitos de longo prazo já provados da contaminação por Covid-19 é a deterioração da saúde mental.



Mas além dos desdobramentos da doença, trabalhadores têm sofrido com uma série de mudanças nos últimos anos ao redor do mundo. O trabalho remoto, acelerado pela pandemia, prejudica muitas vezes o equilíbrio entre as vidas profissional e pessoal ao romper a divisão entre a casa e o escritório.



Novas relações de trabalho, baseadas menos em contratos e mais na prestação de serviços, diminuem a estabilidade e aprofundam incertezas para profissionais que acumulam empregos e responsabilidades. Por fim, o ritmo mais acelerado da comunicação e do dia a dia, aliado a maior pressão por desempenho, agrava a ansiedade e o estresse em meio a um mercado cada vez mais pautado pela competição.



O resultado conhecido disso tudo é a explosão de síndromes de burnout e até de tentativas de suicídio por um esgotamento ligado ao trabalho. Diante de um cenário como esse, é urgente que lideranças executivas e corporações tomem medidas para cuidar da saúde mental de seus profissionais. Diversas iniciativas têm sido conduzidas, mas elas devem ser expandidas e multiplicadas por empresas de todas as áreas e tamanhos.



Abaixo, listamos algumas das medidas que podem ser tomadas:



1. Promover um bom ambiente corporativo e desestimular relações baseadas no conflito.



2. Acolher dificuldades e reclamações dos profissionais por meio de um canal que os escute e os proteja, como uma ouvidoria.



3. Identificar e prevenir casos de deterioração da saúde mental dos funcionários, que costumam se manifestar a partir da insatisfação e da falta de motivação.



4. Tratar do tema, conscientizar os colaboradores sobre seus riscos e alertar sobre indícios e formas de buscar ajuda.



5. Garantir algum equilíbrio entre trabalho e descanso por meio de férias, dias de folga e intervalos na jornada



6. Promover momentos de integração e confraternização das equipes.



7. Quando possível, oferecer benefícios ligados ao bem-estar físico e mental, seja por meio de incentivos a tratamentos psicológicos, seja por meio de incentivos à prática de esportes, ao lazer e à cultura.

Ser apaixonado pelo trabalho nem sempre é bom

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



O sonho de praticamente qualquer pessoa é encontrar um trabalho pelo qual seja apaixonado.



É comum, já há alguns anos, ouvir frases como “o melhor trabalho é aquele que te faz feliz” ou “a chance de sucesso é muito maior quando você tem prazer no que faz”.



No entanto, um alerta é importante. Psicólogos diferenciam dois tipos diferentes de paixão pelo trabalho, sendo que um deles é positivo e o outro nem tanto.



O primeiro tipo de paixão identificado pelos psicólogos pode ser chamada de “harmoniosa”. Ele diz respeito a pessoas que, ao mesmo tempo que gostam do trabalho, valorizam outros âmbitos da vida. Trata-se de profissionais que encontram prazer nas tarefas do dia a dia, mas que têm controle sobre elas e desfrutam também de outras coisas.



O outro tipo de paixão pelo trabalho – e aqui mora o perigo – é aquela chamada de “obsessiva”. Todo mundo, afinal, conhece alguém que dedica à profissão, às conquistas, às promoções e aos aumentos salariais a maior parte de sua energia e de suas expectativas.



Segundo os psicólogos, essas pessoas têm dificuldade de se desligarem do trabalho e, mesmo assim, raramente se dão por satisfeitas com os resultados que alcançam.



A consequência mais grave desse tipo de relação em que o profissional não controla sua relação com o trabalho é um estresse e uma exaustão que podem levar ao burnout.



Nem sempre, porém, isso é culpa da pessoa. Uma pesquisa coordenada por Taha Yasseri, professor de sociologia da University College Dublin, na Irlanda, mostrou que determinados tipos de trabalho podem ser mais propensos a desenvolver paixões obsessivas.



Por meio de testes feitos com mais de 800 participantes, os estudiosos chegaram à conclusão de que diferentes traços de personalidade interagem de forma distinta com variadas áreas de atuação.



Pessoas ansiosas e que lidam com mudanças de humor, por exemplo, são mais propensas a desenvolver a paixão obsessiva pelo trabalho quando estão empreendendo. O que se explica, para os pesquisadores, pelo fato de essas carreiras dependerem do poder de persuasão do profissional e de estarem atreladas a relações de poder e status.



Algumas profissões, por outro lado, são menos afeitas ao desenvolvimento da paixão obsessiva, pois estimulam menos a ansiedade ligada à reputação. É o caso de dentistas, enfermeiros, cirurgiões ou assistentes sociais.



Caso você seja apaixonado pelo trabalho, é fundamental, então, entender o tipo de sentimento que tem por ele. Você controla o trabalho ou ele te controla? Você tem consegue tirar prazer das conquistas ou não?



Se as respostas indicarem que a paixão que você sente é do tipo obsessiva, convém pensar o que poderia mudar.



Caso você não se sinta apaixonado pelo seu trabalho, talvez valha a pena refletir sobre o tipo de sentimento você está buscando. Não é, necessariamente, porque um amigo ou conhecido só faz trabalhar e vive para isso que ele tem uma relação mais saudável com o trabalho do que você.

Semana de 4 dias de trabalho: realidade ou ilusão?

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A Covid-19 trouxe junto com ela várias mudanças ao mundo do trabalho. Algumas foram inevitáveis e ocorreram sem muito planejamento, como a disseminação do home office. Já outras são resultado dos impactos da pandemia e prometem transformar, para além da forma e do local de trabalho, a própria jornada semanal de cinco dias.



Como desdobramento do debate sobre a saúde mental, diversas empresas têm anunciado a redução da carga horária de seus colaboradores, em muitos casos implementando uma jornada de quatro dias de trabalho. Enquanto isso, alguns países têm promovido testes no setor público e patrocinado experiências no setor privado nessa mesma direção.



Os funcionários tendem a aprovar essas iniciativas e relatam um melhor equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional, menos estresse e menor chance de esgotamento. A maioria deles alega ainda observar uma maior produtividade a partir da implementação de jornadas mais curtas.



E as experiências recentes têm mostrado justamente isso. Na Islândia, entre 2015 e 2019, 1 em cada 100 profissionais do país passaram a trabalhar quatro dias na semana e pesquisas indicaram que sua produtividade permaneceu a mesma ou melhorou nesse período.



Outros testes coordenados pelo Estado têm sido feitos em países como a Espanha. E determinadas empresas têm experimentado jornadas mais curtas de maneira voluntária ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Os resultados quanto à produtividade até agora são animadores, com funcionários que perdem menos tempo com reuniões longas e ineficazes e declaram enxergar mais motivação no trabalho.



Além de reduzir a fadiga e melhorar a saúde mental dos profissionais, uma jornada mais curta ainda contribui para o meio ambiente. Diversos estudos têm mostrado como ela significa menos emissão de carbono, menos impressão de papel e menor consumo de energia.



Mas esse não é ainda um caminho sem volta. Nos últimos anos, algumas empresas chegaram a reduzir a jornada de seus funcionários e, pressionadas pela alta competitividade em seus respectivos setores, restabeleceram a semana de cinco dias.



A criação do fim de semana como um período de folga dos trabalhadores tampouco ocorreu de um dia para o outro e sem idas e vindas. O fato de algumas experiências de jornadas mais curtas estarem em curso e de gestores e empresas considerarem cada vez mais a sua adoção é um sinal relevante de transformação na semana de trabalho como estamos acostumados. Esse pode ser, afinal, mais um efeito antecipado pela crise sanitária e capaz de revolucionar o mundo do trabalho.