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O que fazer diante do encontro difícil entre o trabalho e as férias escolares


06/12/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Chegaram as férias escolares e, com elas, mais uma vez o conflito para pais que precisam conciliar o trabalho nessa época do ano com filhos fora da escola. O que já era complicado ficou ainda mais difícil para pais que passam parte ou a totalidade do tempo de trabalho em casa.



As causas dos problemas são variadas e vão da necessidade de ocupar as crianças e adolescentes enquanto é preciso focar nos compromissos profissionais à vontade de descanso em meio a uma rotina cada vez mais acelerada e intensa de trabalho.



Diante desses desafios, o que os pais podem fazer para conciliar a produtividade no trabalho com o bem-estar dos filhos durante as férias?



Em primeiro lugar, uma possibilidade é estimular que os filhos viajem com outros familiares, com amigos ou para colônia de férias. Deixar a casa e a cidade onde moram e viver novas experiências, conhecer novos lugares é uma ótima forma de descanso e de expandir horizontes nesse período.



Mas nem sempre essa é uma opção. Portanto, muitos pais se deparam com filhos dentro de casa enquanto trabalham. Nessa situação, algumas coisas podem atenuar as dificuldades.



Uma delas, fundamental, é estabelecer algum tipo de rotina mesmo durante as férias. Com horários para as crianças e adolescentes, mas também para os pais, que podem se organizar para fazer pausas durante o expediente e estabelecer de maneira mais rígida horários para encerrar o expediente.



Outra iniciativa importante é aproveitar para visitar lugares e atividades que não se faz no dia a dia ao longo do ano. Parques, museus, teatros são boas opções para os horários livres ao fim do dia ou no fim de semana com os filhos.



As férias são ainda uma oportunidade para envolver as crianças – dependendo da idade, claro – em tarefas domésticas que elas não estão acostumadas a fazer. Limpar e organizar o quarto, lavar a louça e até cuidar de uma parte ou de toda a refeição são maneiras de acostumá-las a responsabilidades que mais cedo ou mais tarde vão ter que assumir.



Por último, uma coisa a evitar é que as crianças e adolescentes passem as férias todas diante do computador, do celular e da televisão. Uma parte do tempo é inevitável, mas ela deve ser equilibrada com outras atividades, como práticas de esporte, leitura, passeios ao ar livre. Para isso, o exemplo é incontornável.

Aumentar licença-paternidade é caminho necessário para igualdade de gênero no trabalho


16/11/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Não é segredo para ninguém que a maternidade tem um impacto sobre a carreira das mulheres. Passado o dia das mães, é importante pensar maneiras de mitigar os efeitos negativos que cuidar dos filhos provoca sobre a ascensão profissional das mulheres.



Diversos estudos já mostraram como a chegada das crianças alimenta a desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Longas licenças para cuidar dos filhos e a necessidade de conciliar responsabilidades profissionais e familiares, que recaem sobretudo sobre as mulheres, explicam parte do fosso entre homens e mulheres em termos de salários e vagas ocupadas.



Ao lado das diferenças de formação, considerando que homens são maioria em cursos de negócios, economia e contabilidade, a maternidade é decisiva para a desigualdade no trabalho.



E uma das principais maneiras de alterar esse quadro e permitir que mulheres alcancem, cada vez mais, postos de liderança e salários equivalentes aos dos homens passa por estimular maiores licenças-paternidade para os pais.



Uma pesquisa feita pelo centro de estudos americano Peteron Istitute for International Economics mostrou, em 2020, que, combinada a uma rede de apoio para os cuidados infantis, uma licença-paternidade significativa reduz o período que a mulher fica longe do mercado e facilita a sua reinserção.



Ou seja, uma licença paternal (para homens e mulheres) igualitária favorece a presença de mulheres em cargos de liderança, pois a mantém menos tempo inativa. E ainda ajuda a desenvolver nos pais o hábito e a responsabilidade de dividir os cuidados com os filhos ao longo do tempo.



Diversos países têm, inclusive, alterado a legislação para aumentar a licença-paternidade e diminuir a diferença em relação à licença-maternidade. A Espanha é um caso emblemático, pois, em 2021, igualou o período de licença remunerada. Hoje, pais e mães espanhóis têm direito a 16 semanas de afastamento.



No Brasil, o abismo ainda é enorme. Enquanto mães podem se afastar por 120 dias, os pais têm apenas 5 dias de licença. No entanto, as empresas que aderem ao programa Empresa Cidadã podem estender a licença-maternidade para 180 dias e a licença-paternidade para 20, abatendo essa extensão do Imposto de Renda.



Para essas companhias, que fazem do programa, a extensão da licença pode ser dividida entre pais e mães, mas para isso ambos têm que trabalhar em empresas membro do Empresa Cidadã, mantido pela Receita Federal.



Infelizmente, ainda é consideravelmente baixo o número de companhias que fazem parte do programa. Das mais de 20 milhões de empresas cadastradas na receita, apenas 26 mil estão inscritas na modalidade.



De qualquer maneira, empresas de grande expressão econômica e simbólica vêm investindo na expansão da licença-paternidade. Na esteira de um movimento mundial de promoção da igualdade de gênero, algumas companhias, por iniciativa própria, estão aumentando a licença remunerada dos pais.



Por um lado, elas perdem profissionais por um determinado período. Por outro, o benefício promove a diversidade na empresa e o engajamento dos profissionais, para além dos efeitos simbólicos da medida para toda a sociedade.



Mas não basta o compromisso das empresas. Boa parte das mudanças ainda depende das atitudes dos pais, que devem usar a licença para compartilhar com as mães o cuidado dos filhos. Uma transformação que, apesar de lenta, vem acontecendo e deve ser estimulada cada vez mais.

Maioria dos brasileiros sofreu com estresse e crise emocional no trabalho recentemente


27/09/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Setembro já está chegando ao fim, mas a questão da saúde mental não pode sair da pauta e das preocupações da sociedade, especialmente no que diz respeito ao trabalho.



O tema do estresse, da ansiedade e da depressão ligados à rotina e às obrigações profissionais ocupa, hoje, muito mais espaço no debate público do que antes da pandemia. No entanto, esse espaço ainda é insuficiente diante da necessidade de medidas cada vez mais fortes e numerosas para lidar com esse problema.



A realidade, afinal, tem se mostrado cruel com profissionais de todos os tipos. Dados recentes da pesquisa “Saúde Mental no Trabalho 2023”, da plataforma Think Word, mostram que 90% dos trabalhadores brasileiros acreditam que seu trabalho provoca algum nível de estresse e 63% dizem ter enfrentado ao menos uma crise emocional nos últimos seis meses.



A pesquisa levou em conta respostas de 650 pessoas e reforça o quadro crítico da saúde mental no trabalho no Brasil, a exemplo de dados similares encontrados mundialmente. Para 30% deles, a quantidade de trabalho aumentou e o acúmulo de responsabilidades os impediu de tirar férias.



Com efeito, 41% dos participantes do estudo disseram não ter aproveitado integralmente as férias às quais teriam direito. Mais impressionante – e preocupante – ainda é o dado de que, uma vez em férias, as pessoas não conseguem descansar e se desconectar de suas tarefas.



Somente 41% dos que conseguiram se desligar do trabalho se sentiram bem na maior parte das férias, contra 36% dos que continuaram com afazeres durante o período de descanso.



A pesquisa mostra, portanto, que o trabalho assumiu não apenas uma dinâmica mais intensa, com um ritmo acelerado de comunicação, entregas e afazeres. A evolução das tecnologias de informação e a superposição cada vez maior entre trabalho e vida pessoal fizeram com que os profissionais tenham dificuldade de descansar plenamente. O estresse com as responsabilidades e o medo de deixar de cumpri-las significa uma preocupação constante, o que aumenta o risco de crises emocionais.



Daí a importância de companhias e lideranças se atentarem para o tema da sobrecarga de trabalho e a relação com a saúde mental de seus colaboradores. Conforme eles entram numa lógica perversa de ansiedade, estresse e, às vezes, depressão, o trabalho perde sua dimensão positiva ligada à motivação, à realização e ao sentido que ele carrega.



Profissionais cansados e consumidos pelo excesso e pelo peso emocional do trabalho não podem render e produzir da melhor maneira. Alternativas deverão ser encontradas para revertermos esse ciclo e garantir algo fundamental para a produtividade e o sucesso de empresas e equipes: o bem estar de seus membros.