Semana da Consciência Negra
Por Eliane Franco Figueiredo – CEO Projeto RH
Em semana da consciência negra temos muito a comemorar e mais ainda a fazer pela igualdade racial
A própria celebração de um mês, de uma semana, de um dia da consciência negra representa, em si, os avanços recentes da sociedade brasileira no que diz respeito ao combate ao racismo. No entanto, o caminho no sentido da igualdade ainda é longo e uma série de desafios e preconceitos ainda devem ser superados na luta contra a discriminação racial. No mundo do trabalho não é – e nem poderia ser – diferente.
Algumas iniciativas para diminuir a desigualdade racial no interior de grandes empresas chamaram a atenção nos últimos anos. O que mais repercutiu foi o lançamento de um programa de trainee pela Magazine Luiza exclusivamente voltado para profissionais negros. Depois dele, outras empresas, de maior ou menor porte, seguiram pelo mesmo caminho. É comum, hoje em dia, ver anúncios de vagas dirigidos, prioritariamente, para candidatos negros, mulheres ou LGBTQIA+.
Medidas como essas, de extrema importância, revelam como não basta garantir o acesso a formação superior para todos. Cabe também às empresas, na hora de selecionar candidatos e promover funcionários, colaborar para que os cargos de chefia não sejam ocupados apenas pelos mesmos de sempre – geralmente, homens brancos.
O que não diminui a importância das cotas raciais nas universidades públicas, que colocou a universidade no horizonte e na vida de muitos jovens negros. Desde a primeira experiência nesse sentido, em 2003, na Universidade de Brasília, o percentual de pretos e pardos com acesso ao ensino superior explodiu. Entre 2010 e 2019, o número de alunos negros nas universidades cresceu quase 400%. Sem as cotas, provavelmente, não seria sequer possível pensar em programas de trainee somente para negros. E mesmo que quisessem, grandes companhias não conseguiriam preencher altas posições com profissionais negros.
Apesar de tudo isso, a realidade do mercado de trabalho segue muito desigual do ponto de vista da raça. De acordo com o instituto Ethos, embora represente 55% da força de trabalho no Brasil, a população negra ocupa apenas 4,7% dos cargos executivos nas 500 maiores empresas do país. Segundo o Caged, apenas 3,7% dos profissionais contratados para cargos de lideranças em 2019 eram negros.
Para não falar da renda. Como mostra o Atlas de Desenvolvimento Humano, o rendimento médio do trabalhador negro é 42% menor do que do trabalhador branco. Para a mesma função e muitas vezes com a mesma origem social, negros ganham menos do que brancos e têm menos chance de serem promovidos. E a pandemia só agravou a desigualdade, já que a enorme maioria dos profissionais negros não pôde aderir, pela natureza de suas ocupações, ao trabalho remoto e ao isolamento social.
Alguns fatores objetivos contribuem para esse quadro, como a ausência de oportunidades educacionais. Mas boa parte da desigualdade se explica ainda pela discriminação. Medidas que promovam a igualdade na porta de entrada e dentro das empresas, com suporte e inclusão efetiva, são fundamentais para mudar essa realidade. O que é crucial para acabar de vez com o racismo e, de quebra, melhorar o desempenho das equipes. Não faltam pesquisas e dados, afinal, que mostram os efeitos positivos de uma empresa diversa na sua composição.