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Estudo desfaz estereótipos e mostra que mulheres são tão capazes de liderar quanto homens


07/03/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



São diversos os preconceitos de gênero presentes no mundo do trabalho e um deles sugere que a liderança seria um atributo masculino. Ou seja, homens teriam, supostamente, uma maior propensão a exercer cargos de liderança com sucesso.



Uma pesquisa do Insper, no entanto, revelou que, de acordo com a percepção dos liderados, as habilidades requeridas para uma boa liderança não são mais encontradas entre homens do que entre mulheres. Ao contrário, não haveria diferença de gênero quando o assunto é dirigir um grupo de subordinados.



Entre outubro de 2021 e julho de 2022, o estudo levou em consideração a opinião de 1.464 profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos. Eles foram consultados sobre as características consideradas essenciais para uma boa liderança: competência, autenticidade, benevolência, humildade e integridade.



As respostas indicaram que homens e mulheres que ocupam posições de direção tiveram a mesma nota em cada uma dessas categorias. Assim como quanto à capacidade que eles têm de promover um ambiente de segurança psicológica, cada vez mais demandado por profissionais de todos os setores.



Tampouco foi identificada qualquer diferença quando o tema é a legitimidade do líder e o apoio que os times lhe oferecem. Ambos os sexos são igualmente avaliados em relação à efetividade e à prototipicalidade (atributo que denota o quanto um chefe é visto como líder ideal).



Os resultados contribuem para superar estereótipos que alimentam preconceitos muito enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho. É ainda quase consensual em alguns meios, infelizmente, a ideia de que líderes homens são mais assertivos e fortes do que líderes mulheres, que seriam mais gentis e humildes, por exemplo. Associações de gênero que comprometem a ascensão de mulheres nas organizações.



Ao ter de corresponder às expectativas ligadas ao gênero, mulheres correm o risco de não estar à altura do que se espera em termos de benevolência e compreensão, de um lado, e de serem julgadas quando têm comportamentos mais associados aos homens e ligados à assertividade.



É verdade, contudo, que esses estereótipos vêm mudando. É cada vez mais aceito que não há apenas um jeito feminino de liderar e cada vez mais comum encontrar lideranças mulheres com práticas e tipos de comportamento muito diferentes entre si.



No ano passado, por volta de 40% dos cargos de liderança no Brasil eram ocupados por mulheres. Em um universo tão grande e crescente de chefes mulheres, os profissionais vão se acostumando à variedade de maneiras de liderar, independentemente do gênero.



Apesar disso, é fundamental que as empresas se comprometam com iniciativas para quebrar estereótipos de gênero no trabalho. A melhor maneira de combater preconceitos, afinal, é equiparando os cargos de chefia ocupados por homens e mulheres nas companhias.

Os desafios das mulheres que ganham mais do que os parceiros


01/09/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Poucas mulheres têm um salário melhor do que seus maridos. No Brasil, as mulheres, em geral, ganham 20% a menos do que os homens. E a diferença é parecida para trabalhadores com a mesma escolaridade e o mesmo tipo de ocupação.



Mas conforme a desigualdade de gênero diminui, mesmo que a um ritmo lento, algumas mulheres têm assumido posições de destaque no mercado de trabalho e chegam a ter um salário maior do que os seus parceiros.



No entanto, embora isso deva ser motivo de orgulho para ambos, mulheres nessa posição costumam sofrer por dois motivos.



Por um lado, elas têm de lidar com o sentimento de humilhação e fragilidade dos maridos nessas situações. Em uma sociedade ainda marcada pelo machismo e por uma divisão clara de tarefas entre os gêneros, homens tendem a se sentir mal quando as mulheres ocupam o papel de provedoras.



Isso pode provocar julgamentos de outras pessoas e instabilidade na relação. Em outros casos, pode despertar diversas formas de violência e opressão de homens que não aceitam o sucesso profissional de suas parceiras.



Por outro lado, mulheres que ganham mais e que, portanto, costumam trabalhar mais que os homens, acabam assumindo também a maior parte do trabalho doméstico. O que faz com que a dupla jornada seja ainda mais exaustiva.



Independentemente de prover a maior parte dos recursos financeiros para a casa, as mulheres não se libertam do trabalho tradicionalmente considerado “feminino”, como cuidar dos filhos e da casa.



Pesquisas têm indicado que mesmo com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, a divisão das tarefas domésticas não foi significativamente alterada. Inclusive quando elas ganham mais do que eles. No Reino Unido, por exemplo, um estudo mostrou que 45% das mulheres provedoras são responsáveis pela maioria dos afazeres domésticos, contra somente 12% dos homens que ganham mais que suas esposas.



Outras pesquisas, feitas nos Estados Unidos e na Austrália, revelaram que mesmo que a carga doméstica diminua para mulheres que ascendem na carreira, esse movimento bate num teto rapidamente. Depois de uma mudança inicial, as mulheres voltam a assumir a maior parte do trabalho em casa.



Nesses casos, o estresse profissional se soma a uma sobrecarga de tarefas domésticas e ao desconforto causado por um desequilíbrio mal suportado pelos parceiros. Não por acaso, dados têm indicado que casamentos em que a mulher é a principal provedora têm maiores chances de culminar em um divórcio.



No entanto, esse nem sempre precisa ser o resultado da inclusão das mulheres no mercado e difusão de oportunidades iguais entre os gêneros. As mudanças no trabalho parecem que ocorrem em um ritmo mais acelerado do que aquelas nos costumes e nas tradições.



Mas elas também têm avançado e cada vez é mais comum encontrar pais que levam os filhos para a escola, cozinham e cuidam da casa. Já é tempo, afinal, das transformações no mercado de trabalho chegarem também ao ambiente familiar.