Arquivo para Tag: homeoffice

Trabalho híbrido é a melhor opção para a saúde mental


12/04/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



A discussão em torno da relação entre as diferentes formas de trabalho e a saúde mental explodiu nos últimos anos. Com a pandemia de Covid 19 e o consequente aumento do homeoffice e dos níveis de estresse e ansiedade, profissionais e especialistas passaram a dar muito mais atenção aos efeitos que os modelos de trabalho têm sobre o bem-estar e a produtividade.



Um estudo publicado por pesquisadores das universidades canadenses Simon Fraser e Metropolitana de Toronto trouxe uma nova contribuição a esse debate ao concluir que o trabalho híbrido é mais saudável emocionalmente do que formas totalmente remotas ou presenciais.



Mais de 1570 trabalhadores canadenses participaram da pesquisa e responderam a um questionário sobre o seu bem-estar. Entre aqueles que têm jornadas híbridas, 81% apresentaram indicadores de saúde mental melhores do que aqueles que passam o período integral de trabalho em casa ou no escritório.



Essa não é uma regra universal, pois há outros fatores que contribuem para os níveis de bem-estar. Há também indivíduos que lidam melhor com a totalidade das jornadas remota ou presencialmente.



Mas o resultado do estudo reforça uma impressão disseminada de que a combinação entre dias em casa e dias no escritório é, na média, mais saudável para profissionais que acabam tendo flexibilidade para compromissos pessoais e familiares, típica do homeoffice, sem abrir mão da convivência e da troca, características do trabalho presencial.



É a partir da conexão social com colegas, afinal, que sentimentos de solidão e isolamento no trabalho são mitigados. Sentir-se parte de algo maior é fundamental para o sentido e a realização no trabalho, e presencialmente é muito mais fácil alcançar essa sensação. Por outro lado, a possibilidade de desfrutar de mais tempo para a família e o lazer, e economizar tempo com deslocamentos, tem um efeito conhecidamente positivo.



Como muitas outras coisas na vida, uma mistura equilibrada nos modos de trabalho parece ser a melhor opção para evitar o esgotamento, o estresse e a ansiedade que se tornaram tão presentes no ambiente profissional. Cabe também às empresas, de acordo com as especificidades de suas necessidades, oferecer modelos mais adequados à saúde mental dos colaboradores, cuja produtividade é sempre proporcional ao seu bem-estar.

Trabalho remoto dá sinais de que veio para ficar, mas também enfrenta desafios


15/02/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Embora o arrefecimento da pandemia tenha diminuído significativamente a prática do teletrabalho, muitos profissionais seguem atuando em casa e não devem voltar tão cedo a frequentar escritórios.



É o que revela um estudo da FGV que comparou dados de outubro de 2021 e outubro de 2022. Nesse período, a porcentagem de empresas que adotam o teletrabalho passou de 58% para 33%, enquanto a proporção de trabalhadores em regime de home office (ou semipresencial) foi de 55% para 34%.



A redução é expressiva, mas o que mais chama a atenção é a permanência de uma parcela importante dos profissionais em modelos de trabalho que, antes da pandemia, eram praticamente inexistentes e só diziam respeito a 7% dos profissionais.



A expectativa geral era de diminuição maior do home office com o fim da crise da Covid, mas isso não aconteceu e a tendência é de que não aconteça daqui em diante. Mesmo que boa parte dos trabalhadores estejam em regime híbrido, ou seja, trabalhando dias alternados em casa e na sede da empresa.



Os motivos para a permanência de muitos profissionais longe dos escritórios são diversas e passam, primeiro, pela produtividade. Por parte das empresas, elas reportam, em média, 23% de aumento na produtividade dos funcionários em home office. Entre os trabalhadores, 41% se considera tanto ou mais produtivo em casa.



Outro fator que incentiva o trabalho remoto diz respeito aos benefícios ligados a ele. A começar pela redução do tempo de locomoção, que tem impacto direto sobre a qualidade de vida.



Mas ainda há desafios. Sobretudo para pequenas e médias empresas, que por vezes encontram limites na incorporação da tecnologia necessária para o trabalho remoto. Por outro lado, há também uma dificuldade no que diz respeito à legislação trabalhista, ainda pouco adaptada a esse modelo de trabalho.



Portanto, se o trabalho remoto veio para ficar, ele encontra algumas barreiras e não se aplica a todas as situações nem a todos os profissionais. De acordo com pesquisa Datafolha de dezembro passado, por exemplo, 45% dos brasileiros ainda defendem uma jornada somente presencial.

Os prós e contras do trabalho remoto para a ascensão na carreira


20/07/2022

Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Com a pandemia, veio o trabalho à distância. E com ele, vantagens e desvantagens para profissionais que passaram a trabalhar somente, ou em boa parte, de suas casas.



Dentre os pontos positivos, o mais valorizado é a flexibilidade. Com a redução dos deslocamentos e a possibilidade de organizar de maneira mais autônoma a rotina de trabalho, funcionários têm mais tempo livre com a família ou para atividades de lazer. Algo que beneficia especialmente as mulheres.



Estudos têm mostrado como a falta de flexibilidade de cargos de alto escalão prejudicava a ascensão profissional das mulheres com filhos. Com os avanços do trabalho remoto, se tornou viável conciliar as maiores responsabilidades perante as crianças e posições de maior destaque nas empresas.



No entanto, o adeus ao escritório trouxe também alguns desafios para a carreira. O mais conhecido, de ordem emocional, diz respeito ao difícil equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional quando não há uma separação física e temporal entre elas. Relatos e pesquisas têm revelado os impactos nocivos do home office sobre a saúde mental de pessoas sujeitas a uma jornada mais longa que desfez as fronteiras entre os momentos de trabalho e descanso.



Outro desafio, que até agora recebeu menos atenção, está ligado aos efeitos do trabalho remoto sobre a visibilidade do profissional e, consequentemente, sobre as suas possibilidades de crescimento. É comum, afinal, que o funcionário que fica em casa seja menos notado do que aquele que está no escritório. Menos visto e lembrado, ele se encontra em desvantagem em processos de promoção.



Em empresas que adotam o home office de maneira integral, o efeito é igual para todos. Para as companhias em que ele é opcional e a regra é o modelo híbrido, isso pode fazer diferença. Com menos tempo com colegas e lideranças, menor a chance de estabelecer vínculos de confiança e admiração.



Mas nem tudo está perdido. Há algumas medidas que o profissional que trabalha em casa pode tomar para não ser esquecido e tecer relações pessoais imprescindíveis para a ascensão na carreira.



Por exemplo, manter uma relação contínua com seu gestor, sem que esse contato seja ostensivo e cansativo. Ter encontros esporádicos com ele e colegas fora do ambiente de trabalho também é importante. Afinal, momentos informais de descontração, sejam presenciais ou à distância, são cruciais para a construção de laços pessoais e profissionais.



Como praticamente tudo na vida, o home office trouxe consigo vantagens e desvantagens para o mundo do trabalho. Cabe aos profissionais explorar o que ele traz de bom e mitigar os seus efeitos negativos. O momento é de aprendizado para as empresas e também para os colaboradores.