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Pardos e pretos são raros na direção de empresas abertas no Brasil


03/04/2024
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Há muitas diferenças entre as mais de 500 empresas com capital aberto na Bolsa de Valores de São Paulo. Em uma coisa, porém, a imensa maioria delas é semelhante: a ausência de diversidade racial no topo.



Um levantamento da USP, coordenado pelo professor Carlos Portugal Gouvêa, mostrou que entre todas as empresas cotadas na Bolsa há apenas 4 CEOs negros, sendo dois pardos e dois negros.



Os dados foram coletados a partir dos formulários de referência, que as empresas devem entregar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e que revelaram também que, entre diretores financeiros, em 2022, havia apenas oito pardos e nenhum preto nas mais de 500 companhias.



Em relação a anos anteriores, a pesquisa notou um avanço, considerando que em 2021 o professor não encontrara nenhum CEO ou CFO negro em empresas abertas que disponibilizaram os dados.



No entanto, é evidente a timidez do avanço, pois os números absolutos são irrisórios. O percentual de negros em conselhos de administração, por exemplo, é de apenas 1,85%.



Esses dados revelam o tamanho do desafio para ampliar a diversidade nas direções de grandes empresas brasileiras, algo que vem sendo demandado por acionistas e pelo público de maneira geral.



A presença de grupos historicamente ausentes de espaços de decisão em grandes companhias representa não apenas uma resposta ao apelo por inclusão que vem ganhando força na sociedade, como também ganhos objetivos para as próprias empresas. Diversos estudos, aliás, já mostraram os efeitos positivos para os resultados de um ambiente mais inclusivo e de uma direção mais diversa.



Para isso, é fundamental mudanças estruturais em sistemas educacionais que privilegiam determinados setores, mas também mudanças culturais e práticas nas companhias a ponto de superar barreiras que reproduzem a discriminação e dificultam o acesso ao topo por parte de negros e negras.

Diplomas ou habilidades? O que conta mais na hora da contratação?


13/03/2024
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencxesPo-Paris e Doutorando pela USP



Jovens estudantes e profissionais costumam buscar as melhores faculdades para sua graduação ou cursos de especialização e pós. Para além da qualidade da formação oferecida por instituições renomadas, a expectativa é sempre de que boas credenciais no currículo são decisivas na hora de conseguir uma vaga de emprego.



Esse esforço se justifica. Diplomas de organizações reconhecidas representam um bom ativo para chamar a atenção das empresas.



No entanto, pesquisas têm mostrado que recrutadores têm valorizado cada vez mais as habilidades dos candidatos às vagas em relação aos diplomas que possuem e até às suas experiências profissionais até então.



As habilidades e competências dos profissionais sempre foram levadas em conta na hora da seleção. O que tem mudado, porém, é o ritmo com que os profissionais têm de se adaptar a novos cenários e adquirir novas habilidades dentro da mesma empresa e do mesmo emprego.



Dados do LinkedIn de 2022 mostram que nesse ano as vagas disponíveis na plataforma que não exigiam diploma cresceram 36% em relação a 2019. Mais relevante ainda foi o aumento em 5 vezes do número de recrutadores que buscavam profissionais a partir de suas habilidades e não de seus diplomas.



Também em voga está a busca por candidatos com fortes competências emocionais. Considerando que essas habilidades não são adquiridas em cursos universitários ou mesmo em experiências profissionais, recrutadores tentam avaliar, entre outras coisas, a criatividade, a capacidade de colaboração e a responsabilidade dos profissionais.



A empatia é especialmente procurada para posições de liderança, pois diante de um cenário de escassez de talentos, a retenção de bons profissionais passa diretamente pela relação que eles constroem com seus gestores.



Estudar em boas instituições e uma trajetória rica em outras empresas nunca vão deixar de ser critérios de seleção. Mas as mudanças no mercado de trabalho obrigam os profissionais a se preocuparem com o desenvolvimento de habilidades que um diploma ou uma experiência profissional por si só não garantem.