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78% dos executivos sofrem com Líderes tóxicos no Brasil


17/05/2023
Por Phillipe Scerb – Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP



Muitos profissionais já passaram por isso. Líderes que cobram de maneira excessiva, que rebaixam e humilham, que demoram muito para responder questões urgentes e que fazem cobranças que parecem sutis, mas que abalam emocionalmente seus subordinados.



Mas o tamanho do problema é maior do que se imagina. Uma pesquisa da consultoria em gestão e educação executiva BTA Associados revelou que 78% dos altos executivos brasileiros são ou já foram vítimas de assédio moral por parte de seus líderes.



Dos 321 profissionais dos níveis de gerência, diretoria, presidência e conselhos de empresa entrevistados entre março e abril deste ano, quase 8 a cada 10 afirmaram que trabalham ou já trabalharam com um líder tóxico.



Algumas características foram mencionadas como atributos de lideranças que praticam algum tipo de assédio moral. As relatadas como as mais comuns foram, nessa ordem: desonestidade; agressividade; desrespeito; narcisismo; e incompetência.



A alternativa oposta ao líder tóxico, chamada pelos pesquisadores de líderes de referência, reúne, segundo os entrevistados, características como: integridade; abertura a ouvir e boa comunicação; visão estratégica; e competência técnica.



Além de impactos sobre os resultados do trabalho em si, a relação com um superior mediada pelo assédio moral tem uma série de consequências sobre a saúde mental dos profissionais. 42% dos executivos entrevistados relataram experimentar um alto nível de angústia, 60% deles de ansiedade e 62% enfrentam um elevado grau de estresse. Mais de um quarto, 26%, acham possível adoecer em função do trabalho.



Especialistas consideram que a pandemia, e o consequente aumento do trabalho remoto, aprofundaram o problema do assédio moral nas empresas. À medida que as relações entre as lideranças e seus subordinados passam a se dar de forma privada, sem espectadores, elas ficam mais sujeitas ao abuso.



É comum que as direções das companhias tenham conhecimento da natureza tóxica de algumas de suas lideranças sem que façam nada a respeito, pois em muitos casos esses profissionais geram resultados positivos e cumprem metas.



No entanto, manter dinâmicas e relações degeneradas no ambiente de trabalho tem um preço. Em algum momento, o problema emerge e compromete a imagem da empresa entre colaboradores, fornecedores, consumidores etc.



Outro efeito negativo da presença de líderes tóxicos é a alta rotatividade que isso implica. Bons profissionais não resistem muito tempo e a consequência inevitável acaba sendo a perda de talentos. O treinamento dos líderes é, portanto, fundamental e não deve ser negligenciado em relação a outros investimentos.