Pandemia agrava a desigualdade entre homens e mulheres no trabalho.

Por Philipe Scerb- Mestre em Ciências Políticas pela SciencesPo-Paris e Doutorando pela USP

Vários dos efeitos do novo coronavírus sobre a economia e o mercado de trabalho seguem desconhecidos e despertam todo tipo de especulação. Outros, no entanto, são muito concretos e já se fazem sentir no cotidiano de milhões de mulheres.

Com efeito, uma das consequências mais marcantes da pandemia é o aprofundamento da desigualdade de gênero no mundo do trabalho. Diversos estudos têm mostrado como as mulheres são mais prejudicadas que os homens pelas políticas de combate ao vírus.

O que acontece em função de dois fatores principais. De um lado, as áreas de atuação profissional delas foram mais afetadas e seus vínculos de emprego são mais frágeis. Por outro, a sobrecarga de tarefas domésticas tende a pesar muito mais nos ombros delas do que nos deles.

Informalidade e serviços

Com crises dessa magnitude, os trabalhadores mais protegidos são aqueles com relações formais de trabalho. Embora as empresas em que trabalham também sejam afetadas, eles contam com uma série de direitos e garantias do Estado.

Já os profissionais informais e os que trabalham por conta própria tendem a sofrer mais. Sobretudo na medida em que, com as regras de isolamento social, não podem, muitas vezes, desempenhar suas atividades.

Uma realidade que se abate com mais força sobre as mulheres do que sobre os homens. De acordo com dados da ONU Mulheres, 54% das mulheres latino americanas conseguem sua renda no trabalho informal. E boa parte delas atua em serviços considerados não essenciais, interrompidos frente à disseminação do vírus.

Para agravar esse quadro, os cargos ocupados por mulheres são, na média, menos qualificados e, então, menos sujeitos ao teletrabalho em relação aos dos homens. De tal forma que trabalhar de casa não é uma opção para a grande maioria delas.

Dupla jornada mais carregada

Um efeito indireto do coronavírus sobre o emprego e a renda das mulheres diz respeito ao crescimento das tarefas domésticas provocado pelo isolamento social.

Pesquisa que envolveu três faculdades norte-americanas, dentre as quais a Universidade da Califórnia, revelou que o fechamento de creches e escolas aprofunda uma divisão já desigual entre homens e mulheres no cuidado com os filhos.

Nos Estados Unidos, em média, as mães gastarão mais 12 horas por semana na atenção às crianças. Contra 8 horas adicionais para os pais. Um tempo que poderia ser usado para o trabalho e o consequente desenvolvimento da carreira.

O que é explicado, geralmente, pela remuneração mais alta dos homens. No entanto, o peso da cultura e da tradição ainda é grande ao relegar a responsabilidade pela casa às mulheres. Pois estudos mostram que mesmo em casais com profissões e salários semelhantes, a desigualdade se faz presente.

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